Insegurança, horários inadequados e falta de monitores são alguns dos problemas denunciados, na passada quinta-feira, pelos funcionários do Centro Educativo do Mondego, na Guarda. Isto, um dia depois de cinco jovens terem fugido da instituição.
A vigília de protesto reuniu uma dezena de monitores frente ao Colégio do Mondego, como é conhecido na região, que está actualmente a ser alvo de obras de remodelação. Uma situação que, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública (STFP), agrava as condições de trabalho dos monitores. «Todos estes factores contribuíram para que nos últimos meses os episódios de fuga se repitam, com um caso de agressão ao monitor e fuga e agora com fuga de cinco rapazes que cumprem pena e sequestro do vigilante», disse José Pedro Branquinho, para quem a falta de recursos humanos e a redução de três para dois monitores no turno da noite resultam numa «vigilância inadequada» numa instituição como o Centro Educativo do Mondego. Para o sindicalista, «urge tomar medidas rápidas, porque está em causa a vida e a segurança das pessoas que aqui trabalham».
A começar, desde logo, por fazer vigorar apenas um regime de internamento [actualmente está em prática o semi-aberto e o fechado] enquanto decorrem as obras, pois consideram não haver condições para os dois. Cansados de esperar por medidas, os funcionários já enviaram uma carta ao Instituto de Reinserção Social a pedir a resolução destes problemas até à última segunda-feira, «senão as acções de luta vão continuar», promete o dirigente do STFP. A O INTERIOR, vários monitores – que pediram anonimato – queixaram-se de não receber horas extraordinárias há vários meses, além de estarem sujeitos a cargas horárias elevadíssimas. «Recentemente fui levar um jovem a Lisboa, saí daqui às quatro da manhã e regressei a casa à uma da madrugada seguinte, porque a carrinha em que seguíamos ficou sem travões», conta um deles, enquanto outro garante que lhe devem «mais de 500 horas» de trabalho suplementar desde o início do ano.
«Assim não dá. A nossa vida está em risco, há dias em que não vemos os nossos filhos e depois justificam o não pagamento das horas extraordinárias com um problema no processamento dos ordenados», lamenta. Actualmente, o Centro Educativo do Mondego tem 27 monitores e 27 jovens desde anteontem, uma vez que cinco deles, de 15 e 16 anos, fugiram da instituição após ameaçarem um funcionário com uma barra de ferro, obrigando-o a dar-lhes as chaves do seu carro. Na vigília também participaram alguns profissionais do Centro Educativo dos Olivais, em Coimbra.
Direcção do Colégio do Mondego demitida
A Direcção-Geral de Reinserção Social (DGRS) demitiu a direcção do Centro Educativo do Mondego, na passada sexta-feira, após uma reunião mantida com os funcionários do estabelecimento do Porto da Carne, que no dia anterior tinham realizado uma vigília de protesto.
De acordo com José Pedro Branquinho, do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública (STFP), daquele encontro com a directora da DGRS resultou não só «a demissão em bloco da direcção», como foi também decidido «levar oito dos jovens [da instituição] para Coimbra». Com esta decisão, os funcionários do Centro Educativo do Mondego suspenderam as acções de protesto iniciadas na última quinta-feira, anuncia José Pedro Branquinho – que na passada quinta-feira denunciou problemas na instituição, como insegurança, horários inadequados e falta de monitores. Esta acção realizou-se um dia depois de cinco jovens terem fugido da instituição. Os trabalhadores fizeram um acordo com a directora [da DGRS] para que estas situações não se voltem a repetir», afirma José Pedro Branquinho, referindo-se às reivindicações dos trabalhadores. Quanto aos motivos da demissão da direcção do Colégio do Mondego, conta que aquela responsável disse apenas que «várias coisas não estavam a correr bem».
Luis Martins