Foi quando estava em Londres que António Jorge Gonçalves começou a praticar o «exercício» de desenhar as pessoas que se sentavam à sua frente no metro. A exposição “Subway Life” (Vida Subterrânea), composta por uma seleção de 43 “retratos” pintados no metro de 10 cidades do mundo, foi inaugurada no passado sábado na galeria de arte do Teatro Municipal da Guarda (TMG).
Londres, Lisboa, Berlim, Estocolmo, Nova Iorque, São Paulo, Tóquio, Atenas, Moscovo e Cairo foram as cidades onde o artista, que nasceu e vive em Lisboa, desenhou gente anónima durante um total de 800 horas, cujo resultado final foram três mil desenhos. A exposição, que pode ser vista até 13 de julho, revela um conjunto dessas ilustrações ampliadas à escala humana, o que ajuda a criar um efeito surpreendente de proximidade com os desconhecidos. Presente na inauguração, António Jorge Gonçalves realçou que «habituamo-nos desde pequenos a selecionarmos muito o que olhamos perante uma estratégia do que nos interessa e com isso perdemos imensas coisas que se estão a passar à nossa volta». Foi por isso que decidiu criar este «exercício» quando residia em Londres. O ilustrador afirma que não podia escolher a pessoa que estava a desenhar, o que fez com que «tivesse de desenhar uma série de passageiros que, à partida, não iria escolher porque não acharia que fossem particularmente interessantes ou exóticas».
Foi assim que começou e só quando regressou a Lisboa e continuou a fazer esse exercício é que pensou em passar por esta experiência pelo mundo fora. «Geralmente, quando estão em espaço público, os desenhadores optam por selecionar e procurar criar um determinado enquadramento sobre o que estão a ver», mas António Jorge Gonçalves fez precisamente o contrário ao «desenhar aquilo que aleatoriamente estava à minha frente». O desenhador explicou a O INTERIOR que «normalmente ficava duas a três semanas» em cada uma das cidades, onde «tinha duas sessões por dia procurando cobrir o horário de funcionamento de cada um dos metros, quase como se fosse trabalho de escritório» porque «era muito raro fazer turismo». Questionado sobre o modo como lidou com a incerteza deste exercício, o artista adiantou que «esse foi um dos lados psicológica e emocionalmente mais interessantes porque sabia que tinha que me despachar, pois aquela pessoa podia sair na próxima estação». Por isso, tomou «como regra» que o desenho durava enquanto a pessoa lá estivesse ao contrário do processo de atelier, «em que tenho o tempo todo e o desenho só acaba quando quero».
Ricardo Cordeiro