Uns porque são grisalhos e outros porque congelaram pensões a velhinhos indefesos; aqueloutros porque são gastadores e além porque o país está melhor mas os portugueses não estão e, como os tugas, não há meio de sairmos disto. O disto é esta malfadada Pátria que nos calhou em sortes, onde tardam o futuro que nos foi prometido, se esmifra a teta leiteira que cuida dos profissionais da política e não há um vislumbre, um rasgo, um soslaio que seja para o futuro. O futuro que queremos, e que diz tudo desta democracia putrefacta que nos serviram no 25 do 4 e com a qual temos que viver.
À cabeça a mirifica ideia da qualidade de vida que nos escapa; aqui neste interior que elege – de Vila Verde da Raia a Vila Real de Santo António, menos deputados que todos os de Lisboa juntos e depois, porcaria da representatividade parlamentar, os deputados que porfiam são aqueles que se borrifam para as populações que os elegem e se preocupam em adocicar a boca do cacique que garante o lugarzinho, a prebenda, a mordomia, o tachinho e a colocação que todos trabalhamos muito mas laurear a pevide e dá para cá 4 ou 5 mil euros, e notem que estamos mal pagos, é que serve. E continuamos nisto, sem sair disto.
Campanha após campanha queremos o Hotel de Turismo, neste lado da Beira Alta que no outro quer-se a Universidade Pública mesmo que não tenha público. Aqui que faltam médicos, ali que fecham escolas e morar, residir e pagar impostos no interior serve para respirar ar puro, das montanhas e dos pinhais e o ar demencial desta democracia abjecta que não nos serve mas serve os interesses instalados que eleição após eleição prometem os mesmos remendos para logo depois caírem no olvido.
A bem dizer, que poder reivindicativo tem um distrito, ou uma comunidade, que elege 4 deputados contra um Terreiro do Paço que elege 47? Quando os Passos e os Costas desta vida nos apregoam que os portugueses são todos iguais, será que somos? Quando nos fecham os serviços e nos cobram portagens insultuosas será que somos todos iguais? Quando uns fazem 100 metros e têm médico e outros têm que madrugar, e pagar o táxi, para aviar a receita será que somos todos iguais? Não o creio e não o seremos enquanto aqueles que nos representam, sejam eles do plenário ou do comité, forem mais leais aos politburos e mesas do congresso do que aqueles que os elegem. Mas a cada 4 anos temos que lhes tirar o chapéu, estender a passadeira vermelha e servir os melhores acepipes. Porque eles se vão lembrar de nós? Não. Porque o menino vai ser um senhor doutor em Lisboa. E quando eles descem o Mondego quase que se lhes escapa a origem. Parece que os envergonhamos, quase que têm nojo de nós, beirões de boa cepa que falamos axim mas que temos o mesmo cartão de cidadão que todos os litoralizados deste Portugal. E só não se abalam em definitivo, atentem nos nomes sonantes das listas e colijam tudo o que por nós fizeram e teremos uma mão vazia. E só não nos ostracizam, e não se abalam em definitivo, porque nas mesas ainda se faz política e os miúdos que enviamos para nos representar em Lisboa gostam de lambuzar os chefes. Toma lá a galinha e o almude e não te esqueças das berças. E, 41 anos depois do 25/4, cá continuamos com a democracia que é representativa para eleger os senhores que nos desgovernam, mas que insistem em apregoar que governam a Pátria e, mau grado, que se governam a eles. Mas não nos representam e muito menos nos governam que no interior também é Portugal e são muitos quilómetros quadrados sem ver, nem aos domingos, a bandeira das quinas desfraldada. Talvez se usarmos menos da bajulação, e mais da exigência, possamos ter outro merecimento. Da decência mas não do favor. Com mais estratégia e menos tática. Menos galinhas e mais gadanhos.
Por: Amadeu Araújo – Jornalista;
“Beirão da Baixa com casa na Alta”;