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Melhor aluno do secundário volta a ser premiado

Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto mantém galardão para evocar maior cientista português

José Pinto Peixoto, o mais prestigiado cientista português, natural da Miuzela do Côa (Almeida) volta a ser relembrado e homenageado na sua terra natal. Com o intuito de mostrar aos mais novos a vida e obra do “Homo Universalis”, como alguém o apelidou um dia, a Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto organizou, no último domingo, uma sessão cultural com o historiador Adriano Vasco Rodrigues e anunciou a continuidade do prémio Pinto Peixoto, como forma de motivar os jovens pelo estudo já que o aluno com a melhor média final do secundário a nível nacional vai receber mil euros.

Augusto Monteiro Valente, presidente da associação, salienta que o grande objectivo destas duas iniciativas é «honrar a memória de Pinto Peixoto, não numa perspectiva saudosista, mas sobretudo numa perspectiva positiva e de futuro», e fazer com que a vida e obra de Pinto Peixoto sejam «exemplos de cidadania para as gerações jovens, que no turbilhão dos tempos actuais, estão muito carecidas de referências», reforça. Na sessão cultural de domingo, Adriano Vasco Rodrigues evocou o seu «companheiro, colega e amigo próximo», enquanto Maria Solange Mendonça Leite, antiga assistente do cientista, falou sobre hidrologia e climatologia, dois temas que apaixonaram Pinto Peixoto. A tarde ficou ainda marcada pelo lançamento do primeiro livro editado pela associação, da autoria de José Albano Ferreira, que escreveu sobre a vida e obra de Pinto Peixoto no seu estilo muito característico, a poesia acróstica. Pela terceira vez, a instituição, criada na Miuzela do Côa em 1999, atribuiu um prémio no valor de 125 euros ao aluno da aldeia que concluiu o sexto ano com a melhor classificação.

Mais abrangente e emblemático é o Prémio Pinto Peixoto, cuja segunda edição vê a sua dotação financeira reduzida a mil euros (menos 500 que na anterior), a entregar ao aluno que, a nível nacional, concluir o ensino secundário com a melhor média e que apresente a respectiva candidatura até 30 de Setembro próximo. Para o efeito, o regulamento do prémio já foi enviado para o Ministério da Educação e para as várias Direcções Regionais de Educação que se encarregaram de o fazer chegar às escolas, explica Monteiro Valente, para quem só se irão candidatar-se alunos «com média para cima de 18». Recorde-se que em 2002, primeiro ano em que o prémio foi atribuído, Joana Ferreira, da Secundária Coelho e Castro, em Fiães, Santa Maria da Feira, foi a aluna vencedora por apresentar uma média final de 20. O seu sucessor será conhecido em Dezembro.

Inscrição simultânea em dois cursos

À margem destas duas iniciativas, a Associação quer criar um espaço cultural na Miuzela, para arrancar, se possível, em 2003: «Já temos parte do imóvel e projecto aprovado. Queremos arrancar ainda este ano com o início dessa obra», indica Monteiro Valente. O objectivo é reunir no mesmo edifício um espaço reservado ao espólio de Pinto Peixoto e uma sala para encontros e reuniões, para além de uma biblioteca. De resto, o prédio, que apresenta uma arquitectura rural típica da Beira Interior, tem «condições e espaço suficiente para progressivamente se poder alargar a outros motivos de interesse», refere, adiantando existir a «ideia» de no futuro se vir a criar um Museu Rural. Pinto Peixoto, que faleceu em 1996, quando tinha 74 anos, abriu novos caminhos na investigação em «domínios que eram novos» em Portugal como a meteorologia, a água, a circulação geral da atmosfera e aquecimento global. Chegado a Lisboa para ingressar no ensino superior, o mais prestigiado cientista português, «não sabendo das limitações da lei» inscreveu-se simultaneamente em dois cursos, Matemática e Geofísica, conta Monteiro Valente. Descoberta esta irregularidade, Pinto Peixoto abdicou das “contas”, para tirar o doutoramento em Geofísica, partindo depois para os Estados Unidos da América onde, em colaboração com outro grande cientista mundial, publicou uma obra «que ainda hoje continua a ser uma referência no estudo do tempo», “Física do clima”. Esta obra continua a ser um “best-seller” nos estudos sobre a circulação geral da atmosfera, assegura o presidente da Associação Casa de Cultura Professor Doutor José Pinto Peixoto.

Ricardo Cordeiro

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