Fernando Simões, professor de Matemática na Escola Campos Melo, cultiva há 26 anos uma paixão pela pintura. Completou no ano passado meio século de actividade retratando na tela pessoas, vidas, experiências e ideias. Atravessando vários estilos e tendências artísticas, inclinou-se inicialmente para a pintura académica influenciado pelos mestres do surrealismo, mas centra-se actualmente no naturalismo e no retrato, inspirado na sua vida pessoal e no ambiente beirão que o rodeia. «Tenho uma certa curiosidade naquilo que faço. Não estou fixado num estilo só. Quero continuar a explorar outros campos, quer nos efeitos dos diversos materiais como nos temas e retratos», revela o pintor.
Natural da Guarda, reside actualmente na freguesia do Peso, Covilhã, tendo exposto pela primeira vez em 1978 numa mostra organizada pela Câmara da Covilhã. Depois disso, o trabalho não parou e apesar de expor pontualmente em alguns locais da “cidade neve”, a maioria dos seus quadros são vendidos para galerias. «Pinto para mim, para expressar os meus sentimentos. Não gosto muito de expor, até porque a opinião pública não dá muito valor ao que faço, pelo que deixo isso ao cuidado dos negociantes», salienta com alguma mágoa por não ver o seu trabalho apoiado na região. «Se vier cá um pintor muito famoso, como a Paula Rego, todos vão à exposição. Mas a Paula Rego não expõe e nem vem cá. Tem que se dar oportunidade aos da região, mas àqueles que têm qualidade», critica, considerando existir «demasiada democracia» na pintura, na cultura e na arte em geral. «Não se pode tratar os pintores todos por igual, pois são todos diferentes. Tem que haver massa crítica para se distinguirem uns dos outros». Para Fernando Simões, isso é necessário para separar «os bons dos menos bons», pois só assim as pessoas serão atraídas para a cultura e a arte. «Há massa crítica na Covilhã. Há professores na Campos Melo, por exemplo, com um sentido crítico de arte, até porque existe ali formação artística. O que é preciso é fazer-se essa divulgação», aponta.
Fernando Simões tem hoje 43 anos e pinta «desde pequeno». No entanto, estudou Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico de Lisboa e, posteriormente na UBI, dedicando-se há mais de 20 anos à leccionação das disciplinas de Desenho Técnico, Construção Civil, Materiais e Construção, Geometria Descritiva e Matemática no Ensino Básico. «É difícil sobreviver apenas da pintura. Para ser reconhecido em Portugal é necessário passar umas “férias” em Inglaterra e esperar que algum jornalista escreva uma nota positiva sobre o nosso trabalho. Assim, quando regressarmos, somos logo tratados de maneira diferente», ironiza, chamando a atenção para a importância de se apostar na arte. «O país tem que começar a assumir que os artistas são uma riqueza que não se pode perder. Uma tela custa agora “x” euros, mas depois de trabalhada vale muito mais. E se o nosso trabalho for reconhecido, daqui a uns anos pode valer uma fortuna. Não é desperdício, mas um investimento», refere.
Liliana Correia