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Medir a dor

No Dia Nacional de Luta Contra a Dor as atenções no Hospital Sousa Martins estiveram voltadas para o rastreio da dor

«Então e o exame da dor?», atira uma utente, que parece respirar saúde, e que até já tinha medido a glicemia e, segundo a jovem de bata branca, tem todos os valores dentro da média. Mas o que a utente queria mesmo era medir a sua dor. Só ficou mais tranquila quando a aluna de enfermagem lhe disse que estava tudo «normal» e que não havia motivos para preocupações. No passado dia 14, Dia Nacional de Luta Contra a Dor, as atenções no Hospital Sousa Martins (HSM) estiveram voltadas para a dor. Para assinalar esta data, o hospital, juntamente com a Escola Superior de Saúde da Guarda, fizeram um rastreio. Pelas mãos das três alunas de enfermagem passaram cerca de 150 pessoas, que foram aconselhadas e sensibilizadas para que não sofram em silêncio.

O objectivo desta iniciativa foi dar a conhecer à população, e também à comunidade médica, os avanços em matéria de combate à dor, mas sobretudo «lembrar que a dor existe e que pode ser tratada», diz um enfermeiro. O Dia Nacional de Luta Contra a Dor serviu para «sensibilizar as pessoas e explicar que há consultas específicas no Hospital da Guarda para os acompanhar», refere Isa Santos, aluna de enfermagem da Escola Superior de Saúde da Guarda (ESSG), a frequentar o 3º ano. Também «fizemos um rastreio, avaliámos hipertensão arterial (HTA), a glicemia, e fizemos um exame de avaliação da dor, entre outros exames», atira a colega, Marta Gama. Aliás, a medição da dor como quinto sinal vital dos doentes, juntamente com o pulso, a temperatura e as frequências cardíaca e respiratória, é uma medida obrigatória por lei, mas ainda pouco frequente nos hospitais. Para Ana Coelho, outra das estudantes que colaborou nesta campanha, «o resultado foi muito positivo», já que foram rastreadas cerca de 150 pessoas, «na sua maioria utentes do Hospital, mas também auxiliares e até médicos», ironiza. Porém, a maior parte das pessoas não têm conhecimento que existe uma consulta da dor no HSM. O serviço já funciona desde 2002 e, desde então, tem sofrido um aumento desmesurável de doentes.

Neste momento dispõe de dois médicos creditados em medicina na dor, e no final deste ano, prevêem abrir a unidade de dor, para a qual já disponibilizam instalações. É que a dor não é uma inevitabilidade e «muitas vezes pode ser tratada ou atenuada», diz sabiamente Isa Santos. Além deste rastreio, que decorreu durante toda a manhã do dia 14, na entrada do Hospital, também esteve patente uma exposição, nos corredores das consultas externas, no âmbito do concurso de desenhos para crianças hospitalizadas, subordinado ao tema “Vou desenhar a minha dor”. A par destas iniciativas, as alunas de Enfermagem realizaram ainda um estudo sobre a dor no Hospital da Guarda, durante os dias 7 e 8 deste mês. Da amostra, constituída por utentes da consulta externa do HSM e profissionais de alguns serviços, concluíram que «há muitas pessoas com dor, mas nem sempre recorrem ao Hospital, primeiro auto-medicam-se», refere uma das autoras do trabalho. As cefaleias e as dores lombares são as mais frequentes entre os inquiridos, daí, que tenham ficado surpreendidas por «não recorrerem tanto ao Hospital, pois só o fazem quando é mesmo necessário», constata Ana Coelho.

Patrícia Correia

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