Arquivo

Maternidades da Beira Interior novamente em risco

Correia de Campos vai retomar estudo que defende fecho de serviços com menos de mil partos por ano

O ministro da Saúde anunciou no fim-de-semana o fecho de 15 maternidades com menos de mil partos no interior Norte do País e o presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro confirmou, no Fundão, que nessa lista podem estar algumas das existentes na Beira Interior. Fernando Regateiro não foi muito explícito, mas, se se mantiverem as conclusões do estudo elaborado pelo presidente Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal em Março de 2004, apenas uma se manterá.

A polémica promete voltar brevemente à região, onde funcionam três maternidades nos hospitais da Covilhã, Guarda e Castelo Branco. Até lá, o presidente da ARS Centro garante que esta solução «é uma visão pragmática das necessidades» e que a reorganização dos serviços vai obedecer «a estudos médicos, geográficos e de planeamento, porque o objectivo desta medida é manter os níveis de qualidade dos serviços prestados». Desde Março de 2004 que se sabe o risco que pende sobre as maternidades da Beira Interior nos próximos anos. O aviso foi feito pelo presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal (CNSMN), no âmbito de um estudo encomendado pelo anterior Governo. Albino Aroso explicou na altura que as alterações prováveis na rede de prestação de assistência a grávidas, parturientes e recém-nascidos passarão pela «concentração de recursos técnicos e humanos», tendo em vista uma «maior qualidade». As condições de transporte, as distâncias a percorrer e a comodidade são outros dados a ter em conta neste processo. O assunto, politicamente melindroso, tinha ficado em “banho-maria” desde as últimas legislativas, mas Correia de Campos voltou a colocá-lo na ordem do dia.

O actual Governo, cujo partido sempre pôs de parte o fecho destes serviços, sobretudo em zonas como a Beira Interior, tenciona agora concluir o que o anterior não fez. Contudo, a questão que se põe novamente é saber qual das três maternidades vai fechar e porquê. O ministro já avançou um, dizendo que encerrarão os serviços com menos de mil partos por ano. Factor que coloca a Guarda à frente, pois o Hospital Sousa Martins é o que mais partos tem realizado em toda a Beira Interior. Isto é, cerca de mil por ano, muito à frente do Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco (à volta de 500), e do Centro Hospitalar da Cova da Beira (700). E os últimos dados sobre a evolução da taxa de natalidade nos vários distritos continuam favoráveis à Guarda. Em Dezembro último, estes dados levaram mesmo Albino Aroso a apontar para a concentração dos serviços na “cidade mais alta”. Contudo, sempre admitiu que a decisão será «difícil» de tomar na Beira Interior. É que a sua preferência continuava a ser a Covilhã, por estar geograficamente melhor localizada, permitindo assim socorrer as grávidas da Guarda e Castelo Branco. O médico esclareceu ainda que este «não é um problema dos Governos, mas técnico», relembrando que a comissão já existe há vários anos.

Além disso, e no seu entender, esta é a única hipótese a tomar para «garantir a qualidade do serviço prestado às mães e aos bebés», ainda para mais quando Portugal enfrenta um défice de especialistas, tendo-se perdido em apenas dois anos cerca de 140 obstretas. Ainda no mês passado, durante uma conferência realizada na UBI, o presidente do Colégio de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos, Luís Graça, dizia que a única solução para o interior conseguir ter uma maternidade de qualidade era a concentração dos serviços num só hospital para a Beira Interior ter massa crítica em número de partos e em recursos humanos. Recorde-se que o estudo da Comissão presidida por Albino Aroso apontava para o fecho de 15 maternidades e serviços de neonatologia espalhados pelo país. Os hospitais de Santo Tirso, Barcelos, Amarante, Chaves, Bragança, Mirandela, Figueira da Foz, Lamego, Guarda, Covilhã, Castelo Branco, Peniche, Caldas da Rainha, Portalegre e Elvas inserem-se nessa lista.

Luis Martins

Sobre o autor

Leave a Reply