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Mário Soares participa na Guarda na primeira homenagem ao general Sousa Dias

Antigos militares, historiadores, políticos e familiares convidados da ESEG para um ciclo de debates sobre o líder do primeiro “25 de Abril” falhado

A Escola Superior de Educação da Guarda (ESEG) vai ser o palco, segunda e terça-feira, da primeira homenagem a nível nacional ao general Adalberto Sousa Dias, que chefiou o primeiro “25 de Abril” falhado, como ficou conhecida a revolta do Porto em Fevereiro de 1927. Este ciclo de debates, promovido no âmbito dos 30 anos do 25 de Abril, vai contar com a presença do antigo Presidente da República Mário Soares (que estará na Guarda no dia 13) e dos professores universitários António Arnaut, Fernando Rosas, Oliveira Marques, Reis Torgal, Rui Alarcão e Fernando Rebelo. Presentes estarão ainda Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, o major-general Augusto Monteiro Valente, Alípio de Melo e Adriano Vasco Rodrigues.

Durante dois dias, antigos militares, historiadores, políticos e familiares vão recordar no auditório Carreira Amarelo uma figura «incontornável na oposição ao regime autoritário de então», refere Joaquim Brigas, director da ESEG, para quem este pode ser um «primeiro passo» para uma homenagem de maior envergadura a nível nacional. «O general Sousa Dias foi um precursor da Revolução de Abril e dos ideais da democracia, mas esteve esquecido durante 30 anos. É chegada a altura de recordar a sua acção e enaltecer a sua personalidade de republicano», refere aquele responsável. Esta iniciativa antecede o tributo que a Associação 25 de Abril conta promover em Novembro no Porto. De resto, esta entidade tem defendido nos últimos anos a realização de uma homenagem nacional e de um funeral de Estado com honras militares inerentes ao posto de general. Adalberto Sousa Dias, natural de Chaves, faleceu no Mindelo (Cabo Verde) em 1934, para onde foi deportado após ter participado em várias revoltas militares. O seu féretro foi secretamente transladado para o cemitério da Guarda, tendo sido inicialmente depositado num jazigo cedido pela família Balsemão.

Sousa Dias foi um acérrimo opositor da ditadura militar, tendo participado com Aquilino Ribeiro e outros na falhada revolta militar de Pinhel. Chefiou depois o movimento revolucionário de 3 de Fevereiro de 1927 no Porto, onde foi preso na sequência do fracasso do levantamento e deportado para a ilha de São Tomé. Depois de julgado, foi-lhe fixada residência nos Açores, sendo transferido para a Madeira em 1930, a pedido dos deportados políticos aí residentes. Mas um ano depois, a 4 de Abril, é ele quem lidera a insubordinação da Guarnição Militar da Madeira, assumindo a presidência da Junta Governativa então constituída. A revolta durou 28 dias, fracassando a 2 de Maio, e resultou na deportação de Sousa Dias para Cabo Verde, onde veio a falecer. Passados mais de setenta anos sobre aqueles acontecimentos, Augusto Monteiro Valente, que integra a Associação 25 de Abril, considera que é tempo de homenagear um outro general «sem medo», a quem deve ser concedida a Ordem da Liberdade a título póstumo. Isso aconteceu em 1980, «mas não houve na altura a oportunidade de dar a este acto oficial de reabilitação nacional da sua memória o relevo público que toda uma vida de coerência, firmeza, sacrifício e entrega total à causa República bem justificaria», refere o major-general. Para Augusto Monteiro Valente, Sousa Dias foi um «exemplo raro de indefectível lealdade à República – à qual unicamente serviu, tanto na liberdade como na ditadura – de tenacidade, firmeza, sacrifício e luta na defesa dos ideais do republicanismo e do constitucionalismo, mesmo quando eles começavam a não ser mais que uma lembrança passada, esmagados pela violenta repressão do Estado Novo. Mas para a grande maioria dos portugueses, civis e militares, continua a ser um desconhecido».

Luis Martins

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