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Crónica Política

É sabido que o Verão convida a espairecimento, sol e descanso, por isso não sendo propício a grandes controvérsias ou empenhamentos políticos. Mas há uma inquietante beatitude na política local da Guarda nos últimos tempos que não deixa de ser estranha: não há discussão política, não há dossiers polémicos e o mandato municipal socialista parece rolar sem sobressaltos. As únicas vozes de protesto que se têm ouvido, clamam, não por mais obras municipais e mais desenvolvimento concelhio, mas contra o governo, promovido a único e universal responsável por todos os nossos males.

E assim, a benefício do Partido Socialista, se vai falando de TGV, universidades e ministérios descentralizados, em vez de se comentar o Polis já expirado, o centro histórico abandonado, o terrível buraco negro que é o endividamento da autarquia, ou a consensual Plataforma Logística, cujas obras “deverão” arrancar no último trimestre do ano, mas cuja data de constituição remonta já a 2002! De igual modo, têm corrido bem aos nossos responsáveis autárquicos, estas exacerbadas paixões dos portugueses, que foram, primeiro a epopeia portuguesa no Euro 2004, depois a discussão sobre o mérito e demérito das decisões de Durão Barroso e de Jorge Sampaio.

Por quanto tempo vai permanecer esta apatia? Depende da opinião pública, mas particularmente dos políticos… O que não deixa de ser verdade é que nunca como hoje o Partido Socialista foi tão vulnerável, com os grandes projectos da Guarda pura e simplesmente paralisados. Os responsáveis continuarão a dizer que a culpa é do governo – a culpabilização é, como se sabe, uma das mais essenciais ferramentas políticas. Mas aos cidadãos pouco importa saber de quem é a culpa pela inércia: as obras não existem, essa é a única constatação que os guardenses não deixam de fazer!

Claro que essa fragilidade é conjuntural. No próximo ano, em vésperas de autárquicas, o ritmo dos projectos vai acelerar e algumas obras terão forçosamente de ser inauguradas. Talvez seja tarde, então, para demonstrar aos eleitores que o mandato do Partido Socialista foi um “flop” e os seus dirigentes uma decepção…

À parte a estagnação executiva, entretanto, vão-se revelando estimulantes as movimentações na pré-grelha de partida para as próximas eleições autárquicas. E mais ainda com a sucessão de dirigentes nacionais nos dois principais partidos portugueses: As alterações de carácter nacional têm reflexos locais, com novos alinhamentos políticos que podem ter consequências, quer nas futuras comissões políticas nacionais, quer no surgimento de novos candidatos autárquicos. A disputa política vai, concerteza, ser estimulante.

Por: Rui Quinaz

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