Manuel Alegre recusou avançar com uma possível candidatura presidencial, justificando a decisão com o argumento de não querer “contribuir para dividir o eleitorado de esquerda”.
Em conversa com apoiantes, deixou nas entrelinhas uma acusação de “traição” por parte de Sócrates. E, num jantar de apoiantes, veio criticar o PS e afirmar que “o processo não foi claro, a solução [de Mário Soares] não está conforme os critérios republicanos da renovação da vida política. (…) É minha convicção que tinha e tenho condições políticas para um resultados surpreendentes”, disse.
Não saberemos se “tinha” ou se “tem” condições para alguma coisa. Não saberemos se lhe faltaram apoios se lhe faltou coragem.
Por mim, se não queria dividir não deveria vir a terreiro fragilizar a candidatura de Mário Soares. Ou o enfrentava ou estava calado. Critiquei Sócrates por escolher Soares. Mas reconheço, hoje, que é uma solução melhor que a de Alegre – que muito declama e pouco morde. Afinal, há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que diz NÃO… me candidato!
Ser ou não ser… eis o PSD
Foi para muitos “o autarca modelo”. Isaltino Morais, ex-autarca do PSD e candidato independente à Câmara de Oeiras – numa jogada de antecipação -, apresentou a sua suspensão do PSD após entregar as listas de candidatura no tribunal daquele município.
Por seu lado, a candidatura de Valentim Loureiro à Câmara de Gondomar à revelia do PSD poderá custar-lhe a expulsão do partido ao qual pertence há cerca de 30 anos. A formalização da sua candidatura no passado dia 16 foi o ponto de partida para um processo disciplinar do PSD.
Este ponto de ruptura tem por base a postura do presidente do partido, Marques Mendes, que pretende moralizar o PSD e as suas figuras. Acontece que, ou existe uma linha intransigente de conduta, ou tudo não passa de fogachos parvos para enganar outros parvos. É o caso.
As listas do PSD – nacionais e locais – estão cheias de gente duvidosa. Gente de moralidade questionável e envolvida em processos legais não resolvidos. E pior. Quando muitos militantes do PSD são esquecidos e ignorados, o partido – de que até sou militante – acolhe parasitas que ontem estavam no banquete do PS ou nas listas da CDU.
Por muito respeito que me merecem figuras gradas deste partido, devo reconhecer que o PSD é, neste momento, um refúgio de oportunistas, que vieram descaracterizar uma força partidária do qual muito se esperava – e espera!
Marques Mendes expulsou de jogo dois gatos bravios, mas deixou espalhar os ratos. E ainda não compreendem porque é que muita gente válida se afasta da política. Cego é quem não quer ver.
Por: João Morgado