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Mantém-se um texto sem título

(atenção que escrevi mantém-se e não manter-se-á…)

Há uns largos anos atrás, já lá vão mais de cinco décadas, houve um homem, que a coragem acabaria por levar à morte antes de tempo, a quem foi feita uma pergunta nada inocente. Escuso-me a identificar os nomes dos intervenientes pelo facto de a situação ser mais do que conhecida. A essa pergunta enviesada sobre o que faria se ganhasse umas certas eleições, a personalidade em questão respondeu, em tom seguro e de forma frontal:

“- Obviamente demito-o.”

Esta frase, duas parcas palavras apenas, sabia-o ele muito bem, poderia acarretar-lhe problemas futuros. Apesar disso, homem de não dobrar a cerviz, disse-a. Um caminho lamacento para os lados da franquista Badajoz, umas balas disparadas por mãos assassinas, uma sepultura sem nome foram o preço a pagar por essa atitude…

Hoje dou comigo a pensar neste tema num tempo em que, cada vez mais, nos parecemos a uns meros números sem relevância que se veja no conjunto. Alguns tratamentos de polé que nos são dados bem exigiriam da nossa parte outro tipo de reações.

Num tempo em que governantes se expõem ao ridículo na “casa da Democracia” quer seja numa frase pretensamente de preciosismo gramatical, quer seja na defesa dos benefícios de um qualquer programa informático, neste tempo apenas lhes restaria uma solução possível que todos sabemos qual seria… Mas não. Insistem em continuar lançando a possibilidade de solucionar as questões lá para as calendas.

Vivêssemos no tempo do tal senhor da resposta curta e grossa, e talvez o verbo utilizado nessa frase tivesse sido conjugado na segunda pessoa do plural. Mas não. Insistem em manter-se.

E mantêm-se. Manter-se-ão?…

Por: Norberto Gonçalves

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