A destruição das urnas e dos boletins de voto, nas últimas eleições autárquicas (2013), no Ourondo (Covilhã), levou ao cancelamento do ato eleitoral. Dois anos depois, os oito manifestantes envolvidos chegaram a acordo com o Ministério Público e terão de pagar 3.500 euros ao Estado. Na origem dos protestos estava a agregação da aldeia à freguesia de Casegas, situação que os populares se recusam a aceitar.
O antigo presidente da Junta não se dá por satisfeito com este desfecho mas reconhece que «foi melhor assim para acabar com a situação, que se iria prolongar e poderia ter consequências mais gravosas». José Rito adianta que inicialmente a maioria dos envolvidos não aceitou a sentença, mas no final foi de «comum acordo». Cada um dos envolvidos terá de pagar uma quantia entre os 400 e 500 euros, mas contam agora com o apoio da população para que ninguém saia prejudicado de um episódio onde foram «penalizados pela defesa da terra». Através de festas e jantares, os concidadãos tentarão reunir o dinheiro que o Estado reclama, pois, afinal, esta «não foi uma situação premeditada e fomos penalizados pelas imagens que passaram na televisão». Apesar desta decisão, José Rito garante que vai continuar a «reivindicar a devolução da freguesia e a fazer valer os direitos» da população do Ourondo, mas por meios legais.
O pedido de desagregação está a decorrer e demora algum tempo, mas o ex-autarca está convicto que «conseguiremos levar a “água ao nosso moinho”». Este caso já foi discutido e aprovado em Assembleia de Freguesia e Assembleia Municipal da Covilhã, pois «Casegas também não quer a união», o que será mais um argumento para se conseguir a separação das freguesias. José Rito conta que quando as duas aldeias souberam que passariam a ser uma só freguesia houve uma «desaprovação imediata» e o combinado era que não houvesse candidatos nas autárquicas. Mais tarde surgiu uma lista em Casegas que nunca integrou ninguém do Ourondo, «para haver uma lista conjunta teríamos que nos sentar primeiro e conversar, teria que haver um acordo», reitera. Sem esse acordo e após o boicote eleitoral, as eleições repetiram-se uma semana mais tarde e a única lista foi eleita para presidir à União de Freguesias, com apenas um voto a favor em Ourondo. Dos 460 eleitores inscritos apenas dez votaram e destes, nove votaram branco ou nulo.
Daí para cá, José Rito afirma que «ficámos votados ao abandono», acrescentando que em dois anos de mandato a atual Junta «nunca visitou o Ourondo». Para aumentar a indignação dos habitantes, os serviços administrativos da freguesia encerraram, abrindo apenas duas horas por semana. O funcionário responsável por esta tarefa passou a ter de se deslocar todos os dias para Casegas, estando agora nesta aldeia dois funcionários, «enquanto o Ourondo não tem nenhum e eu não acredito que em Casegas haja assim tanto trabalho». As questões sociais são as que mais preocupam o ex-autarca, pois é um tema que afeta «bastante» a população do Ourondo e a Junta de Freguesia, uma das entidades responsáveis pela resolução destes prolemas, «não conhece as pessoas e a realidade em que vivemos, porque nunca aqui vieram».
Ana Eugénia Inácio