Arquivo

“Mamma Mia 2”! Apesar de tudo, How can I resist you!

Opinião – Ovo de Colombo

Não é considerado muito cool gostar de ABBA, provavelmente só por que é um grupo pop. Enfim… Este estigma que os circunda é injusto, não fossem os ABBA o melhor grupo pop da história. Conseguiram compor melodias intemporais, “catchy” (adoro “catchy”) e, nos seus últimos anos, tornar o pop realmente sofisticado em termos técnicos e de estilo. Como sabem, estou deveras habituado a gostar daquilo que é visto como “careta” ou que não caracteriza a minha geração (vejo musicais technicolor da Esther Williams em vez de “Star Wars”, assim como oiço ABBA em vez de Metallica), mas, de facto, o preconceito em torno do grupo sueco é-me particularmente desconcertante.

Se tenho os ABBA como banda preferida, é óbvio que assisti fervorosamente à estreia de “Mamma Mia 2: Here We Go Again”, realizado por Ol Parker, na passada quinta-feira (o filme que, através de “flashbacks”, conta a história de como Donna conheceu, na sua adolescência, os três “pais” de Sophie). É igualmente óbvio que gostei, principalmente pela banda sonora que tanto me diz. Ainda assim, não delirei como no primeiro filme. Algumas críticas têm considerado que “Mamma Mia 2” peca por não ter um catálogo de canções dos ABBA tão emblemáticas quanto o seu antecessor. Embora isso seja verdade, confesso que não é algo que me tenha incomodado. Há boas e famosas canções em “Mamma Mia 2” como “Knowing me, Knowing you”, “One of Us” e, como não, “Fernando”, a única obra-prima absoluta dos ABBA que não foi inserida no primeiro filme (felizmente, a sequela – e também prequela –remedeia-se ao fazer de “Fernando”, interpretado pela exuberante Cher, o melhor momento da película – ainda que a essência delicada da canção fique um pouco tremida).

Aquilo que me fez só gostar e não enlouquecer foi mesmo a melancolia que percorre todo o “plot”. Para mim, o “Mamma Mia” sempre foi um refúgio às agruras da vida. Julgava que a sequela também assim o seria, mas não. De todo. A sua tristeza envolvente começa (atenção, “spoiler” à vista!) pelo facto da personagem de Meryl Streep estar morta. Depois, existem as situações da própria história e as canções que a acompanham, todas mais macambuzias que no primeiro filme. Tem-se dito que a história de “Mamma Mia 2” é melhor que a do primeiro filme. É verdade que é mais sólida e profunda, mas, sinceramente, isso pouco interessa para quem gosta de “Mamma Mia”. Eu desejo apenas um “plot” leve e divertido com “Dancing Queen” à mistura. Nada mais.

Ainda assim, este musical não é só tristezas. Há diálogos divertidíssimos (mais uma vez, Christine Baranski e Julie Walters ofuscam tudo e todos), e os números de dança são bastante bem executados e filmados. Os atores, na sua generalidade, estão bastante bem, principalmente nas cenas cómicas. Devo destacar, no entanto, a atriz Lily James pela frescura e naturalidade tão essenciais que confere ao papel de Donna enquanto adolescente (além de cantar muito bem). De facto, James é o ponto solarengo do filme e qualquer cena com ela é bem-vinda.

Em suma, “Mamma Mia 2” é um bom musical despretensioso que satisfaz relativamente bem um fã dos ABBA. Mas a espontaneidade, o regozijo empolgante e, claro, a própria Meryl Streep, do primeiro filme estão em falta. E isso nota-se de um modo inquietante.

Miguel Moreira

Sobre o autor

Leave a Reply