Em pouco mais de uma hora foram consumidos para cima de 700 litros de sopa e houve até quem, uns 15 minutos depois de abertas as portas, tivesse de anunciar aos visitantes que já não tinha o que servir. O Festival de Sopas da Serra da Estrela, que decorreu no último domingo no recinto da Adega Cooperativa de S. Paio (Gouveia), voltou a ter casa cheia. A diversidade de iguarias e sabores continua a assumir-se como a grande atracção do certame, que celebrou este ano 10 anos de existência.
Houve para todos os gostos, desde a típica sopa de rabo de boi ou a de grão à sempre procurada sopa da pedra, passando pela de castanha, obrigatória, e sem esquecer a micológica. No total, apresentaram-se nesta iniciativa da ADRUSE 28 sopas, oriundas dos cinco concelhos da área de intervenção da associação, com cada participante a confeccionar um mínimo de 25 litros. O importante tem sido, sempre, que sejam feitas com produtos da Serra da Estrela, como mandam as regras. E que agradem não só aos visitantes, que entraram em rebuliço para a tenda às 13 horas, como também ao júri, este ano presidido uma vez mais pelo Chef Hernâni Ermida – conhecido autor e apresentador de diversos programas e livros ligados à gastronomia. Os entendidos avaliaram as sopas por quatro categorias: a de instituições/colectividades, a de profissionais de restauração, a de castanhas e a de outras sopas (tradicionais da região) – para além da melhor de todo o festival.
«Estamos cá para ganhar», confessou momentos antes de anunciados os premiados uma das participantes, Manuela Mendes, do stand da Junta de Maceira (Fornos de Algodres), presente no festival pela primeira vez. A rapidez com que desapareceram os 25 litros de sopa de tortulho abria boas perspectivas. «Apostámos nesta sopa porque é do tempo dos nossos avós e estava esquecida», explicou a cozinheira de serviço, ao revelar os principais ingredientes, como o nabo, várias qualidades de carne, hortaliça e alho. Maceira viria a arrecadar o primeiro lugar da categoria outras sopas.
Já Ascensão Martinho é uma presença assídua no festival. Esteve na primeira edição e só falhou uma, por motivos de doença. Apenas não foi premiada em dois anos, contou, assegurando ser «a pessoa que participa há mais tempo» no evento. Desta vez, Ascensão Martinho, de S. Paio, decidiu apostar noutra receita, a sopa de Outono. «Mudei para não continuar a ser chamada de Senhora da sopa das castanhas», explicou a participante, mostrando-se optimista quanto ao veredicto final do júri. Cerca das 14h30, o seu stand era dos poucos que ainda tinha o que servir. Acostumada à grande procura, resolveu confeccionar 40 litros.
Desta feita, Ascensão Martinho ficou de fora do “pódio”. A grande premiada do festival foi, nesta décima edição, a sopa rica de Inverno da Associação de Promoção Cultural e Desportiva de Fornos de Algodres. «Por mim ganhavam todas», comentou o Chef Hernâni Ermida, ao frisar que «é sempre difícil escolher». Para este especialista, as «receitas tão raras» da região são «uma herança cultural gastronómica de uma qualidade excelente». Hernâni Ermida, que presidiu ao júri pelo segundo ano consecutivo, destacou ainda a decoração dos stands, que não descuraram a exibição dos produtos endógenos, o que considerou «comprovar que houve utilização dos produtos locais».
«Este é já um grande evento marcante no contexto da Serra da Estrela», avaliou, por seu turno, Álvaro Amaro. No entender do presidente da ADRUSE e também da Câmara de Gouveia, «o grande desafio é conquistar ainda mais visitantes de vários pontos do país». «O nosso principal objectivo é valorizar os produtos locais, promovendo a Serra da Estrela», acrescentou.