A Feira de São Bartolomeu terminou no último domingo e levou a Trancoso mais de 140 mil pessoas. António Oliveira, presidente da Associação Empresarial do Nordeste da Beira (AENEBEIRA), faz, por isso, um «balanço positivo» do certame, para o qual também contribuiu o dinamismo proporcionado pelos vários intervenientes. O futuro passa agora pela requalificação do espaço, que dará uma nova atractividade ao maior certame sectorial da Beira Interior. Contudo, esta edição ficou marcada pelas fiscalizações das Finanças aos artesãos e feirantes.
«Atingimos os nossos objectivos, pelo que estamos satisfeitos. A meta inicial de 140 mil visitantes foi ultrapassada com uma forte afluência nos últimos dias. Economicamente, espera-se sempre mais e no princípio houve algumas queixas. Mas, no final, na visita que fizemos aos stands, todos estavam visivelmente satisfeitos», garante o responsável. Durante 10 dias estiveram na cidade cerca de 250 agentes económicos, ligados a áreas tão diversas como o ramo automóvel, a maquinaria agrícola e industrial, o artesanato, a alimentação ou o mobiliário. Pelo palco instalado no recinto passaram Ana Malhoa, Tony Carreira, EZ Special, Mickael Carreira, Quim Barreiros, Anjos, Jorge Palma e outros grupos ligados à música tradicional e etnográfica. Este ano a Feira de S. Bartolomeu foi conjuntamente organizada pela AENEBEIRA e pela empresa municipal Trancoso Eventos, que repartiram um orçamento de 290 mil euros.
Contudo, houve algumas contrariedades que António Oliveira não quer que se repitam: «No dia do concerto de Tony Carreira a produtora abriu a bilheteira às 10 da manhã, o que acabou por ser corrigido no dia do espectáculo de Mickael Carreira. Mas é uma situação que não pode voltar a ocorrer». No primeiro caso, as pessoas viram-se obrigadas a pagar o bilhete mesmo que quisessem apenas fazer compras no recinto. Referindo-se aos aspectos que mais satisfizeram a organização, o dirigente destaca a «possibilidade de termos conseguido proporcionar alguns dias com entrada gratuita», o que deverá acontecer também em 2009. Para o próximo ano, a maior novidade será, todavia, a anunciada requalificação do recinto onde se realiza a Feira de S. Bartolomeu. Os cerca de 32 mil metros quadrados deverão apresentar-se de cara lavada, com ajardinamentos, espaços verdes e um pavimento que substituirá a terra batida. Para António Oliveira, essa é mesmo «a questão essencial»: «Nesse dia, a Feira de S. Bartolomeu dará um salto em frente, não só no número de visitantes, que poderá crescer, mas também na qualidade das condições oferecidas aos expositores», augura.
Sarmento diz que há razões políticas na «fiscalização repressiva»
Na semana passada, as Finanças fiscalizaram a Feira de S. Bartolomeu por duas vezes. António Oliveira não se mostra minimamente escandalizado com o facto, até porque tanto a AENEBEIRA, como a Trancoso Eventos, tinham «tudo transparente» e é algo que se repete todos os anos. Ao que parece, o Ministério das Finanças terá directivas para que os negócios relacionados com o mundo do espectáculo sejam investigados e terá sido esse o caso de quarta-feira. Contudo, não foram detectadas irregularidades. O mesmo já não se verificou no dia seguinte, em que alguns autos foram levantados a expositores: «A acção de fiscalizar é legítima. Compreendo a necessidade de fiscalizar, mas não compreendo o enquadramento. Certamente que há situações mais interessantes que o artesanato para investigar, no que diz respeito a fugas ao fisco», critica. O presidente da AENEBEIRA reconhece que, com essas movimentações, as suspeitas são inevitáveis: «Com certeza que prejudica o decorrer da feira e talvez tenha consequências no futuro», receia, estranhando que este género de fiscalização não se verifique da mesma forma noutras feiras.
Posição idêntica é a de Júlio Sarmento. Em comunicado, o presidente da Câmara de Trancoso critica aquilo que considera de «fiscalização repressiva na Feira Franca de Trancoso», mostrando-se «muito preocupado com o carácter persecutório de um Estado quase policial com que os mercados e feiras de Trancoso são tratados». Referindo que a actuação se repete ao longo do ano, com a participação da Brigada de Trânsito e da Autoridade Sanitária Alimentar e Económica (ASAE), o edil lamenta que tamanho policiamento não evite que vários ourives sejam vítimas de violência na região. E recorda que Rui Pereira, ministro da Administração Interna, não fez «absolutamente nada» depois das reuniões mantidas com a autarquia nos últimos meses. Para o presidente trancosense, esta atitude é «politicamente dirigida aos mercados e feiras de Trancoso, visando combater a sua vitalidade e competitividade». De resto, diz que alguns dos artesãos investigados são «quase analfabetos». Irónico, Júlio Sarmento diz ter «saudades do tempo em que a Feira de São Bartolomeu era uma feira franca e isenta de impostos e alcavalas».
Igor de Sousa Costa