Há várias semanas que os preços dos bens alimentares têm encarecido, por força do aumento do preço dos cereais. Produtores de carne, pão e outros produtos dizem que a culpa é do custo dos cereais, que também têm subido, por serem escassos. Um cenário negativo para a maior parte dos consumidores, mas que causa estranheza a Diamantino Brazete, agricultor de Videmonte. Da colheita de cereal do ano passado, mais de 14 toneladas ainda estão por vender, por não haver quem queira pagar aquilo que o produtor entende ser o preço justo.
A subida do preço dos cereais parece não ter trazido grandes vantagens a este agricultor. Para escoar a produção, tem de baixar o preço de venda. Uma decisão inglória, «porque as coisas estão mais caras para nós como são os casos dos adubos e dos combustíveis», refere. O pão, as farinhas e as rações (derivados do cereal) estão mais caros e Diamantino Brazete entende que o preço que os compradores que sugerem não acompanha esta tendência. «Só consegui vender algum para semente», desabafa. A colheita do longínquo mês de Agosto do ano transacto tem resistido, mas já foi tratada, para aguentar mais algum tempo. Esta prática é comum entre os produtores que armazenam as suas colheitas, mas a resistência do cereal pode terminar a qualquer momento: «Não sei quanto tempo aguenta, porque é a primeira vez que me acontece. Mas sei que nos Estados Unidos eles têm cereal de vários anos, por isso pode ser que tenha sorte».
«Isto antes não acontecia. Até entrarmos na CEE, o cereal já estava vendido antes de semeado e já sabíamos quanto íamos receber por ele», recorda o agricultor. Desde então, as coisas têm piorado progressivamente: «Com as quebras de venda, chegaram a dar subsídios por não escoarmos o cereal. Com os anos, foram compensando cada vez com menos dinheiro, até que acabaram com isso», relata. Estas indemnizações aliviaram as perdas do agricultor – que vive e trabalha numa das muitas quintas espalhadas nos mais de 5.392 hectares da freguesia de Videmonte – mas ficaria mais contente se o dinheiro lhe chegasse pelo rendimento do trabalho. A cerca de um mês da próxima colheita, Diamantino Brazete diz que vai sair para o campo como todos os anos e guardar o que colher, à espera de um preço que lhe seja favorável. Apesar da motivação, está consciente de que dificilmente voltará a haver anos em que colha 40 toneladas de centeio, como noutros tempos.
O produtor chegou a estar em França, mas decidiu voltar a Portugal, em busca de mais sorte. Da quinta saíram já os dois herdeiros. A filha mais velha estudou, casou e agora trabalha na Guarda, em contabilidade. O filho, com 29 anos, era um apaixonado pela vida do campo e estava disposto a ficar com o negócio do pai, mas levou os conselhos do progenitor a sério, e procurou emprego noutras paragens. Com os rendimentos do centeio aquém do pretendido, Diamantino Brazete decidiu há alguns anos fazer um projecto de florestação, para contornar a falta de alternativas. Neste momento, são os 57 hectares de floresta que o sustentam, a ele e à esposa. E assim deverá continuar a ser: «Nem para os novos há trabalho, quanto mais para mim. Com a minha idade tenho de trabalhar aqui, que já não consigo arranjar outra coisa», lamenta.
Igor de Sousa Costa