Desde o início do presente ano letivo que o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) viu 103 alunos anularem a respetiva matrícula, um número que é inferior às desistências registadas em igual período em 2010/2011. Dados que mostram que a cidade mais alta parece escapar à tendência generalizada de haver mais estudantes a abandonarem o ensino superior devido a dificuldades financeiras. O presidente do IPG realça que apenas pode analisar os números concretos de que dispõe e ressalva que apenas uma minoria dos alunos que deixaram a instituição invocou razões de ordem económica para o fazer.
Constantino Rei frisa que «paradoxalmente» os «números oficiais que temos até são inferiores aos do ano passado», embora saliente que «só temos informação de alunos que formalmente procederam ao cancelamento da matrícula», podendo haver outros que «pura e simplesmente deixaram de vir às aulas». Realça que «a perceção que temos é a de que há muitas dificuldades mas em termos estatísticos e oficiais não há essa correspondência». Deste modo, enquanto que este ano letivo houve 103 alunos que «anularam a matrícula», no ano passado «por esta altura» o número de desistentes oficializados era de 170. Dos 103 que anularam a matrícula este ano, houve «alguns» que o fizeram «porque foram transferidos» para outra instituição, o que «também poderá em certas situações ter a ver com problemas económicos». Contudo, adianta que apenas cinco disseram «expressamente» que cancelaram a matrícula por dificuldades financeiras, havendo ainda 15 que invocaram «motivos pessoais», sem especificarem quais. São números que «valem o que valem», reforçando que «não temos dados objetivos que nos permitam concluir que haja mais dificuldades do que em anos anteriores», frisando contudo que o IPG está a facilitar o pagamento das propinas «em mais prestações» do que as três previstas inicialmente.
Por seu turno, o Provedor do Estudante do IPG, que assumiu funções em novembro de 2010, indica que «em cada 100 casos» que lhe chegam, «60 têm a ver com questões financeiras»: «No último ano letivo e desde o início do presente até ao momento 60 por cento dos alunos que se dirigem ao provedor fazem-no devido a questões relacionadas com problemas financeiros, desde o pagamento de bolsas, de rendas ou de refeições», exemplifica Jorge Mendes. De resto, afirmou conhecer «três casos concretos de alunos que suspenderam as inscrições nos últimos dias» por motivos de ordem económica, num cenário que classifica de «muito preocupante».
De acordo com a edição do jornal “Público” da última terça-feira, cerca de 3.300 alunos já cancelaram a sua inscrição no ensino superior desde o início deste ano letivo a nível nacional. Números que dizem respeito a apenas metade das universidades, embora tivessem sido contabilizadas as maiores instituições. As dificuldades económicas dos estudantes estão na base de muitas das desistências, reconhecem os responsáveis académicos. A dificuldade de acesso a bolsas de estudo e o aumento das propinas criam ainda mais problemas. Os 3.300 abandonos representam um aumento de 6 por cento em relação ao registado em igual período do ano passado nas mesmas instituições. O INTERIOR procurou saber a mesma informação relativa à Universidade da Beira Interior mas até ao fecho desta edição não nos chegou qualquer resposta.
Ricardo Cordeiro