Natacha Fatelo e Raul Barata, ambos da Escola Secundária do Fundão, e Tiago Grácio, da Escola Secundária de Afonso de Albuquerque (Guarda), fintaram um “bicho-de-sete-cabeças”: a matemática. Os três estudantes do 12º ano obtiveram classificação máxima – 20 valores – no exame nacional de Matemática A. Além de terem em comum esta nota excecional no exame nacional, todos pretendem seguir Medicina.
Preparar um exame não é simples, mais difícil ainda é obter a classificação máxima. Apesar das dificuldades, estes estudantes tiveram dois “companheiros” fundamentais: o esforço e a dedicação. Mas nestas alturas, apesar do empenho, o “nervoso miudinho” vem ao de cima e Natacha Fatelo, de 17 anos, confessa a O INTERIOR que não estava «muito confiante» antes da prova. A necessidade de ter uma boa nota e os relatos de alunos de anos anteriores fizeram com que a fundanense se sentisse insegura, mas as quatro horas diárias dedicadas ao estudo valeram a pena. Natacha Fatelo adianta que se preparou para o exame fazendo duas coisas: «Primeiro revi as matérias dos anos anteriores e posteriormente resolvi o máximo de exames que consegui», explica. Apesar do afinco, a estudante admite que não se «“matou a estudar”» devido à dificuldade em concentrar-se «muitas horas seguidas» e também para ter «algum tempo livre» para outras atividades que lhe permitissem «abstrair do clima de stress».
Após o exame, Natacha Fatelo recorda que a primeira coisa que fez foi ir ter com a sua professora de Matemática «para confirmar se as escolhas múltiplas estavam corretas». Apesar deste 20 não ter qualquer influência na sua média interna, a jovem garante que quando viu a pauta ficou «muito feliz e orgulhosa»: «É bom saber que o trabalho desenvolvido ao longo dos três anos de secundário foi recompensado e que a minha nota de candidatura ao ensino superior aumentou graças a este resultado», destaca. O próximo passo é concorrer a Medicina, mas caso não o consiga a segunda opção é ingressar em Ciências Farmacêuticas. Quem não quis ver os critérios de avaliação foi Raul Barata, de 18 anos. «Achei desnecessário estar numa ansiedade tremenda por pensar que o que tinha colocado na prova não correspondia exatamente ao que constava nos critérios», justifica.
O estudante, que foi a exame com média de 19 a Matemática, confessa que já esperava este bom resultado, mas mesmo assim sentiu «algum alívio por constatar que a nota obtida me permitia entrar no curso que eu quero». Apesar deste 20 não ter influenciado a sua média interna, o jovem fundanense considera que o veio ajudar a «diluir uma nota menos conseguida», a de Biologia e Geologia (15 valores). Na Guarda, Tiago Grácio, de 17 anos, lembra que após a prova de Matemática a primeira coisa que fez foi «ir para casa descansar e estudar para outro exame». No seu caso, o estudante destacou o apoio dos docentes: «Hoje sinto-me agradecido por ter tido professores que, ao longo da minha vida, me inspiraram e apoiaram. Sem dúvida que devo isso a todos eles, cada um com o seu mérito», sublinha.
Para Jéssica Andrade, aluna da Secundária Afonso de Albuquerque, a possibilidade de tirar 20 no exame de Geometria Descritiva sempre esteve “em cima da mesa”. A aluna, que está no 11º ano e que ainda não tem o peso de escolher a opção de ingresso no ensino superior, adiantou a O INTERIOR que não se sentia minimamente confiante antes da prova por ter tido, no dia anterior, exame de Biologia e Geologia e de as coisas lhe terem «corrido mal». Contudo, a esperança em ter uma boa nota nunca se desvaneceu e o empenho que depositou naquela disciplina fizeram-na acreditar que era possível. «A partir do segundo período do 11º ano dediquei-me bastante a Geometria Descritiva. Fiz resumos e despendi 4 a 5 horas diárias de estudo», recorda Jéssica Andrade, que subiu sete valores do 10º para o 11º ano (passou de 12 para 19).
Apesar da sua insegurança inicial, a aluna diz que quando terminou a prova «sabia que ia tirar 20» porque, além de ter «respondido corretamente a todas as questões», sentia que merecia a nota «pelo esforço». Por agora, Jéssica Andrade vai prosseguir os estudos e está a pensar ingressar em Arquitetura, mas também não descarta a possibilidade de seguir os passos dos seus pais, como guarda prisional ou PSP.
Número de alunos com 20 valores aumentou
O INTERIOR contactou as escolas da Beira Interior – mas nem todas elas colaboraram –, tendo apurado que o número de alunos que obteve 20 nos exames nacionais de Matemática, Geometria Descritiva, Físico-Química e Português aumentou em relação ao ano anterior. Em 2016 houve apenas 14 alunos que obtiveram classificação máxima num dos exames e este ano foram 18.
Médias também
As médias dos exames nacionais do secundário a Português e Matemática subiram ligeiramente em relação ao ano passado. No primeiro caso as notas passaram de 10,8 para 11,1 valores e no segundo verificou-se um aumento de 11,2 para 11,5 valores.
Esta pequena subida refletiu-se na percentagem de chumbos, sendo que a Português houve uma diferença de um por cento em relação a 2016, passando de 7 para 6 por cento. Já na Matemática a descida de chumbos foi de dois pontos percentuais, descendo de 15 para 13 por cento. Biologia e Geologia manteve inalterada a percentagem de chumbos (8 por cento), resultado de uma média que aumentou também de forma muito ligeira de 10,1 para 10,3. Em Economia a taxa de reprovação desceu três pontos percentuais e, à semelhança do que aconteceu em Matemática, também História e Geometria Descritiva registaram uma diminuição de dois pontos percentuais na taxa de reprovação. No lado inverso está a média da prova de Física e Química que registou uma queda – passou de 11,1 para 9,9 – que teve consequências diretas nos chumbos, que subiram de 11 para 14 por cento.
Sara Guterres