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Macerar

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Uma pele constantemente demolhada, como os dedos mergulhados no mar por longas horas, um penso húmido permanente, leva a uma tonalidade esbranquiçada e torna-a friável. A ideia de um cartão rígido, que molhado se desfaz ao toque dos dedos. Mas lavar de modo não prolongado é higiénico, transporta a vantagem de impedir os cheiros, evitar o sarro e a crosta. A maceração pode vir da exsudação persistente de algumas feridas crónicas. A maceração condiciona uma alergia e um prurido. Assim, também os rabos mal lavados, e as perdas involuntárias de líquido pelo ânus levam à maceração perianal. A comichão no rabo é absolutamente inestética mas pode ser uma involuntária solução para um ânus macerado. No Brasil, as retretes têm sempre um chuveirinho para o cidadão se lavar. É um mimo higiénico que na Europa nunca vi. Mas os brasileiros coçam-se menos que nós? Não há nenhum doutoramento sobre isto, nem nenhuma dissertação sábia comparativa do prurido. Com tantos doutos exames mais tarde ou mais cedo haverá. Serão especialistas da comichão perianal. Criadores de pomadas, inventores de novos sossegos. A pele, não deve pois, estar constantemente húmida. Para isso criou Deus as mucosas. Elas nascem nas fronteiras de dois tecidos. Tecidos que não se misturam. A mucosa produz líquidos para se manter alagadiça e a pele quer-se seca. Há mucosas da boca ao ânus e depois na vagina, nas narinas, etc. A mucosa é melhor que a pele? Não, a mucosa tem finalidades diferentes onde a humidade tem um papel fundamental. A pele macerada dá comichão e a mucosa está sempre molhada e não se macera. Estes territórios do pensamento são fundamentais para perceber a importância da lavagem e não da imersão, a importância dos banhos antes da piscina, as vantagens de buscar o médico antes da coçadela pública. Claro que coçar é fisiológico, mas coçarmos certas partes em qualquer lado… pode ser impróprio e há modos de o evitar. “Oh doutor, venho cá porque me coço muito”. Este foi o mote desta crónica. O rapaz tinha razão!

Por: Diogo Cabrita

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