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Maçaínhas em festa pelo cobertor de papa

Produto artesanal que tem por base a lã churra foi em tempos usado para aquecer as camas, hoje em dia é também usado em peças de decoração

O cobertor de papa deu nome à festa do passado fim-de-semana em Maçainhas. Esta aldeia do concelho da Guarda já viveu do fabrico deste cobertor que tem por base a lã. Agora, menos usado e também desconhecido para muita gente, a população espera trazê-lo de novo à “ribalta”.

«Antigamente tinha a utilidade de aquecer as camas das pessoas, hoje em dia já não tem a mesma utilidade», explica Maria Fernandes, da Escola Artes e Ofícios, considerando que «hoje é mais uma peça decorativa». A escola localizada em Maçainhas aproveita o cobertor de papa para fazer peças de decoração para quartos e salas, como mantas, almofadas e até pantufas e porta-chaves. Uma forma de impulsionar a procura deste produto artesanal. As mantas com forro de tecido são uma das peças em que a Escola de Artes e Ofícios investiu e «tem sido bastante procurada». Quanto à rentabilidade, Maria Fernandes reconhece que «talvez não o seja» e considera que «podia ser explorado de outras formas».

A artesã considera que este festival de cultura popular já é um primeiro passo: «Há muita gente que ainda não conhece o cobertor de papa, principalmente os jovens, por isso é importante este tipo de iniciativas para divulgar», afirma. Uma opinião partilhada por António Gêgo, que se dedica à produção do cobertor de papa desde 2013, altura em que ficou desempregado. Atualmente, é um dos poucos tecelões que ainda usam o método tradicional. Considera que esta «tradição não devia acabar», não é totalmente «rentável, mas vai-se vendendo qualquer coisinha, infelizmente pouca coisa», refere. Mas também falta gente que queira apreender a arte: «Uma pessoa sozinha não tem hipótese», lamenta António Gêgo, segundo o qual o fabrico de um coberto é um processo «longo», de um “rolo” fazem-se sete cobertores, mas a sua produção demora cerca de dois dias. «Ser tecelão do cobertor de papa é uma profissão cheia de “manhas” e eu ainda não as sei a todas, todos os dias sempre a aprender», acrescenta.

O cobertor de papa é feito através de lã churra selecionada e fiada especificamente para este fim, tecidas num enorme tear manual. Do tear saem para o pisão e daí para a máquina de cardar, onde ganham o característico aspeto peludo que os tornam e por esse motivo são considerados um cobertor bastante quente. Para finalizar o processo de produção é ainda necessário colocar o cobertor num estendal, onde secam ao sol. Ao logo do fim-de-semana foi criado em Maçaínhas o espaço “Papa Dome”, uma estrutura com cinco metros de diâmetro onde o público foi desafiado a utilizar os seus sentidos e a descobrir os sons, as texturas, os cheiros e as cores do cobertor de papa e do seu processo de fabrico. A estrutura estava toda forrada de cobertores e ali houve micro concertos por elementos do Conservatório de Música de São José da Guarda. A festa foi organizada pela autarquia, juntamente com a Junta de Freguesia local e a Escola de Artes e Ofícios de Maçaínhas.

Ana Eugénia Inácio António Gêgo é um dos poucos tecelões do cobertor na região

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