O braço-de-ferro entre a população de Almeida e a CGD mantém-se e as manifestações pela reversão do fecho da agência local sucedem-se. Um novo protesto está agendado para a próxima quarta-feira, em Vilar Formoso, um dia depois do presidente da Câmara ser recebido pelo Presidente da República.
A reunião foi anunciada por António Baptista Ribeiro na última segunda-feira, durante mais um protesta junto às instalações da Caixa na vila fronteiriça, e confirmada por Marcelo Rebelo de Sousa: «Eu não tenho solução nenhuma. Vou ouvir o senhor presidente da Câmara», disse o chefe de Estado. O balcão do banco público já fechou portas, mas os habitantes e autarcas não desmobilizam e exigem a sua reabertura. Na passada quinta-feira, a Caixa fechou muito antes do horário habitual em Vilar Formoso para evitar a invasão da agência. A medida deixou os cerca de centena e meia de manifestantes – vindos em três autocarros disponibilizados pelo município – à porta. Mas, como eles, outros clientes. Um casal de Porto de Ovelha, a cerca de 20 quilómetros da localidade fronteiriça, desconhecia o protesto. «Viemos de propósito e não pudemos tratar dos nossos assuntos», queixou-se a mulher, que disse compreender o protesto ao lamentar que «só temos deveres de pagar, não temos direitos e isso não está certo».
À sua volta, a revolta popular fazia soar palavras de ordem como “Macedo rua” ou “mudar de banco”, enquanto José Vaz, presidente da Assembleia de Freguesia de Almeida, insurgiu-se contra o fecho da agência de Vilar Formoso. «Esta é a forma desumana da CGD gerir as coisas, trata as pessoas como números», criticou o autarca, a quem faz rir o argumento de que o balcão de Almeida dá prejuízo há cinco anos. Por sua vez, o vice-presidente da Câmara sustentou que o fecho da agência de Almeida «viola a Constituição». Alberto Morgado revelou aos presentes que a CGD propôs como alternativa a abertura de uma área automática nas instalações da Câmara, mas que a solução foi recusada. «Não aceitámos porque ficamos privados de um serviço essencial, o da tesouraria», justificou o edil, acrescentando que o fim da Caixa na vila raiana «é injusto, é um crime imperdoável».
Alberto Morgado garantiu que a luta dos almeidenses não vai esmorecer porque «temos todas as razões do nosso lado» e revelou que, devido ao fecho intempestivo do balcão de Vilar Formoso, o município não pôde fazer uma transferência para Estrasburgo e pode vir a ser penalizado financeiramente. «Hoje [dia 4] fomos impedidos de cumprir as nossas obrigações decorrentes de obras comparticipadas por fundos comunitários e não sei quais serão as implicações futuras dessa situação», disse a O INTERIOR o vice-presidente da Câmara.
Caixa propõe banca automática com gestor de conta
A administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) não vai voltar atrás na decisão de encerrar o balcão em Almeida, mas anunciou que tenciona manter em Almeida uma «solução de banca móvel», mais um gestor de conta que dará apoio no pagamento de pensões e prestações sociais.
«Em dias a definir, a CGD terá presente em Almeida uma solução de banca móvel, uma vez licenciados pelas autoridades competentes as necessárias condições de segurança e termos de funcionamento», assumiu a Caixa em comunicado. Nessa área de banca automática, a instalar nos Paços do Concelho ou na Junta de Freguesia, o gestor de conta pagará à população mais idosa as reformas e prestações sociais que recebiam no balcão, mas também irá ensiná-la a trabalhar com os meios mais «modernos» – os cartões de débito. Entretanto, a administração da Caixa declarou-se «disponível» para reunir com o presidente da Câmara, isto depois do dirigente dos Autarcas Social Democratas (ASD), Álvaro Amaro, ter solicitado um pedido de desculpas ao edil almeidense após o cancelamento da reunião agendada para o dia 2 devido à ocupação da agência.
Em comunicado divulgado na quarta-feira, a CGD garantiu que «a administração mantém, de boa-fé, o compromisso assumido, alheio a motivações políticas, estando disponível para a realização da referida reunião, tendo em vista alcançar as melhores soluções para a continuação da prestação do serviço bancário aos seus clientes». A Caixa sustenta ainda que a agência de Almeida registou «cinco anos consecutivos de prejuízos», tendo-se verificado a diminuição de atividade comercial. Houve também um nível de movimentos de tesouraria «muito abaixo da média», sendo que «66 por cento do movimento do balcão de Almeida são atualizações de cadernetas e consultas», alega a CGD.
Luis Martins