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Lunáticos Perigosos

A mãe de Adam Lanza tinha-o ensinado a usar armas de fogo e a preparar-se para o fim do Mundo. Era uma prepper, alguém que dedica boa parte da sua vida a preparar-se para o final iminente da nossa civilização. Não se sabe qual a forma de apocalipse em que acreditava, e há muitas por onde escolher. Há quem tenha como seguro que o colapso do sistema financeiro, ao destruir a economia, irá lançar nas ruas milhões de pedintes e saqueadores; outros pensam que o final da civilização será precipitado pelo aquecimento global, que irá tornar escassos os alimentos e mais difícil o acesso à àgua potável; outros ainda que é uma questão de tempo que um qualquer cataclismo natural ou uma guerra nuclear tornem inabitável uma parte do planeta e apenas aqueles que estejam preparados têm uma probabilidade, pequena, de sobreviver.

Nancy Lanza estava possivelmente preparada para todos esses cenários mas não para aquele em que o filho, armado de uma espingarda, lhe entrava pelo quarto e a matava durante o sono com quatro tiros na cabeça, antes de ir à escola dela e massacrar vinte crianças. Muitos dirão que ela é de alguma forma culpada de tudo o que aconteceu, já que armas e paranóia são uma má combinação e que, como a de Newtown, há muitas mais tragédias à espera de acontecer. Também é legítimo dizer-se que ela apenas dedicou boa parte da vida a tentar proteger a sua família de tudo aquilo que a pudesse vir a ameaçar, e que afinal acabou por ser a primeira vítima do perigo maior, do que não soube reconhecer a tempo nos olhos do seu próprio filho. Alguém escrevia no dia seguinte à tragédia que mais perigosa que as armas é a loucura, e podia ter razão, mas também se lhe poderia responder que a loucura pouco mal poderia fazer sem as armas.

Mais uma ilusão milenarista irá cair no próximo dia 21, em que nada de mais sucederá para além de mais um solstício de inverno e por muito que custe ao prestígio (é a palavra justa, em ambos os seus sentidos) da civilização Maia. Oxalá esse dia não seja pretexto de acção desesperada para muitos outros lunáticos, demasiado preparados para tudo, mesmo para o que nunca irá acontecer senão nas suas cabeças.

Por: António Ferreira

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