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Liberdade

“A liberdade sem freio, caminha sempre ao lado da desgraça”

Conselheiro José Joaquim Rodrigues de Bastos – 1854.

Não sei porquê, nos últimos tempos tenho-me deliciado a ler obras antigas, escritas por autores maravilhosos e que no seu tempo – que me parecem ser de hoje – me levam a transcrevê-los, com a esperança que muitos de nós assentemos os pés na terra e reflictamos com serenidade, para que a História não se repita.

Escreve Eça de Queirós, nas “Terras do Distrito de Évora – 2”:

«Todos os dias dizemos liberdade: é necessário não iludir o povo e fazer-lhe sentir quanto há de divino, de grande, de nobre, de santo, de útil, nestas quatro sílabas – LI….BER….DA….DE.

A Liberdade significa:

– A Instrução do Povo;

– O Fim da Força;

– A Extinção dos Privilégios;

– A Razão Pública Governando;

– A completa Reforma dos Abusos;

– As penas e castigos dos Códigos, adoçando-se;

– A Justiça protegendo a todos;

– A Economia Prevalecendo;

– A simplificação da Administração;

– A morte das Polémicas Vãs;

– A Consolidação do Crédito público;

– A Divisão Racional do Trabalho;

– O Acréscimo do Consumo;

– O Desenvolvimento da Produção;

– A Consolidação da Paz;

– A Atenuação da Miséria;

– A Transformação do Imposto.

Se todos nós respeitarmos a Liberdade e ajudarmos a aplicar na prática as “Quatro Sílabas”, estaremos a repudiar o Idiotismo que se manifesta pela avidez que há do belo e do extraordinário. O idiota, à busca de ideias e de sensações, é o supremo grau do enfraquecimento moral, que só este século foi dado ver; é o idiota com a consciência da sua inércia, da sua invirilidade, da sua estupidez, do seu desfalecimento cerebral. O ideal que hoje se procura mais é o embrutecimento; inveja-se a passividade das plantas e a imobilidade das pedras. Embrutece-se!».

Tudo isto foi escrito no século XIX! Infelizmente, nos dias de hoje, tudo parece igual. Talvez, porque os que se julgam importantes nos nossos Burgos Provincianos não têm tempo de ler, de estudar prosas, de mergulhar em testemunhos e exemplos do passado, de forma a construírem uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais solidária.

Sinceramente, nos dias de hoje só vemos duas espécies de pessoas: as que são contemplativas e vivem no campo, longe da vida social, ou as que vão viajar. Deste modo são felizes, gozam, sossegam, pois ficam isolados da lógica actual de alguns partidários do “Quero, Posso e Mando”, que leva ao benefício do cinzentismo, da incompetência e do amiguismo. Assim, será difícil vivermos em Liberdade e, “avassaladoramente”, continuaremos a caminhar para um abismo cuja profundidade desconhecemos.

Simão Bolivar escreveu: «É uma terrível verdade que é preciso mais força para manter a Liberdade do que para suportar o peso da tirania».

Haja tento!

Nota: Desculpem lá esta minha preguiça de puxar pela minha veia da escrita e de me refugiar nas transcrições dos mestres da Prosa Portuguesa. É que nas férias quero ser feliz, gozar os meus e sossegar o espírito.

Até Setembro, se Deus quiser.

Por: António Moraes

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