Há duas doenças que me surpreendem no momento. A letargia com que permitimos os mais incompreensíveis dislates e as mais estranhas ofensas. A doença da inércia contra a prepotência e a revolta contra qualquer mudança. Há na letargia um qualquer filtro que impede as pessoas de perceberem o que as deve erguer e o que não as deve sequer pestanejar. Vem isto a propósito da enorme manifestação contra a junção das freguesias. No fundo, o maior arauto do dividir para reinar foi o tirano Salazar e adorava ver pessoas em picos de monte, em casarios ocultos, em lugares ermos e adorava uma escolinha de duas salas em cada aldeia e espalhar a eletricidade e a água pelo território nacional. Assim criou um país sem estradas, cheio de aldeias onde custava dias a chegar, onde muitas vezes não havia luz nem água da torneira. Isso devia ter sido uma razão de revolta. Também as freguesias com menos de 20.000 votantes me parecem desnecessárias e até atrozes. Tal como me ofendem os clubes de bairro e as filarmónicas demasiado pequenas e escolas de dez alunos. A escala faz a qualidade. A letargia contra as avaliações, contra os mini tiranos, o silêncio com os maltratos, não pode ser liberta para discutir questões de organização territorial que obviamente tem de ser alterada. Os poderes de milhares de freguesias e centenas de Câmaras têm de ser repensados e não podemos fugir disso. Há uma parte do capítulo onde se diz: “não há dinheiro” e outra onde afirmaria, “não há necessidade” que as pessoas teimam em não ler. Não percebo que tanta gente queira manter o estado atual do poder local. Eu sou das fronteiras abertas, das unidades para ampliar a força, do associativismo, do clube único na Madeira, nos Açores, em Coimbra e desse modo da força que a escala transmite.
Por: Diogo Cabrita