Os impostos (lagaan) cobrados aos camponeses da Índia aquando do Império Britânico estão na base deste filme produzido pela frenética indústria cinematográfica da Índia. Bollywood (a Hollywood de Bombaim) produz mais filmes por ano que os Estados Unidos da América, e tem milhões de espectadores diários nas suas salas de bilhetes acessíveis. “Lagaan” é um épico, é uma produção super para a indústria cinematográfica. Há um herói, há um conflito de amores, há música dançada e cantada com coreografias estilo americano e um enredo muito tenso, baseado num jogo de críquete que surgia de uma aposta feita por um capitão inglês. O filme é muito negativo para os britânicos, mas é sobretudo uma crítica da tirania gratuita, dos caprichos de quem não tem cultura para mandar. Simultaneamente “Lagaan” é um poço de virtudes do herói indiano, um macho combativo, amigo dos seus amigos, cheio de altruísmo e amor pelo próximo. Aqui, como na novela brasileira, há bom e mau, há negativo e positivo. Do mau não nasce nada bom e no bom nunca se vislumbra a malícia. Assim, carregado de estereótipos, “Lagaan” é o filme que conduz a Índia (ou toda a sua enorme indústria cinematográfica) a ganhar o Óscar de melhor filme estrangeiro há uns seis anos atrás. Por mil preconceitos e estupidez deixei-o para trás na lista dos que queria ver. Fiquei preso ao televisor e gostei. É outro mundo, outro som, outro modo de fazer cinema e com ele doutrina, canções doutrinárias, discursos inflamados, desejos educativos. Muita coisa de que não gosto como princípio, mas que aqui, neste incrível kitsch, até me soou bem. O cinema indiano está a despontar e vai aparecer com Krrish, outro super herói para espantar os meninos. A Manga invadiu os nossos jovens com a sua banda desenhada e cinema de animação nas últimas décadas, são heróis orientais carregando virtudes e muitas artes marciais e inigualáveis capacidades físicas. Agora vem o surto indiano para demonstrar como o Homem Aranha, amigo das Tartarugas Ninja e companheiro de escola de Dick Tracy, irmão mais velho do Hulk, não estavam sós. E com este desabrochar veremos Nuno Jerónimo coleccionar as fotos de Aishwarya Rai, a musa de Bollywood. O Mundo é uma ilusão em todas as cores e com todas as raças – somos todos tão iguais…
Por: Diogo Cabrita