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Ladrar à Caravana

O Governo adverte que conduzir em contra-mão prejudica gravemente a sua saúde e a dos que rodam no sentido contrário

Ou andamos mesmo distraídos com as notícias, ou é da Lua e dos astros, ou então precisamos de umas pastilhas para a atenção. Mais um estouro, com mortos, provocado por um automobilista a conduzir em contra-mão numa auto-estrada, começa a ser epidemia. Ainda se pensou, quando a moda começou, tratar-se de apostas. Se houve algum caso motivado por isso, passou-me despercebido. Copos? Alguns, sim. Um caso, recente, de perturbação mental. Os restantes, tudo leva a crer, são originados por distracção, pura e simples.

Até pode haver sinalização deficiente para algumas entradas e saídas de auto-estrada, mas isso não é, não pode ser, desculpa. Não quero ser chato e armar em gerontófobo, mas o número de condutores idosos a provocar estas situações não dará para pensar um bocado? Quem lhes renova a carta de condução não deveria estar atento aos sinais da idade? E ter a coragem de não renovar?

Já aqui escrevi sobre essa questão, ilustrando-a com um exemplo que tenho na minha própria família. O indivíduo em questão está aluado, não dá duas pra caixa, a ficar surdo, capaz de arrancar em 5ª e reduzir para 3ª a mais de 100 Km/hora, ou de se entreter a navegar a 60 Km/h na faixa mais à esquerda, escandalizado com os filhos de senhoras de porte duvidoso que o ultrapassam a buzinar pela direita. A carta dele foi renovada recentemente. Não ficaria muito surpreendido se um dia destes chocasse de frente com ele numa qualquer auto-estrada de Portugal. Talvez não chegasse a ter tempo, sequer, de me surpreender: os mortos costumam ser muito pouco impressionáveis.

Claro que não são apenas velhos a fazer estragos destes. Muito encartado jovem arranja sarilhos similares.

Já que andamos todos a clamar por uma cultura de rigor e exigência, não seria tempo de entrar com regras draconianas na Direcção Geral de Viação?

E, contra mim falo, obrigar o pessoal a fazer exame de condução, por exemplo, de 5 em 5 anos? Se os carros têm de ir à inspecção, porque não quem os conduz? Há sinais e regras novas, que desconheço. Mas tenho carta. Posso provocar acidentes por ignorância. A ignorância não é desculpa, já sabemos. Mas os mortos, depois de morrerem, teimam em continuar mortos. Mesmo que se lhes peça desculpa.

Por: Jorge Bacelar

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