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“La La Land”, ou a dança do costume

Opinião – Ovo de Colombo

Todos os anos, por esta altura, alinhamos na dança do costume. Na antecipação da cerimónia dos Óscares, e com a chegada dos nomeados aos cinemas portugueses, fala-se mais sobre cinema do que nos restantes 11 meses do ano. Cada um tem o seu palpite e o seu favorito, ainda que os dois nem sempre sejam conciliáveis, fazem-se apostas e trocam-se opiniões. A corrida costuma ser disputada até à meta mas, este ano, à boleia do resto do mundo, “La La Land: Melodia de Amor” (2016) parece encaminhar-se para fazer história no Teatro Dolby, em Los Angeles.

Mas, ao contrário daquilo que o título sugere, não é disso que falamos hoje. Embevecidos por esta dança, não discutimos uma questão que se torna cada vez mais premente, sobretudo pelos prémios internacionais que o cinema nacional tem amealhado um pouco por toda a Europa: o que nos falta fazer para chegar à elite cinematográfica? E, se o nosso continente se vai rendendo aos que de bom se tem feito neste jardim à beira-mar plantado, a verdade é que isso não se reflete nas cerimónias com maior visibilidade. Portugal nunca figurou entre os nomeados a Melhor Filme Estrangeiro nos Óscares. Mas quem se importa com isso?

Ficam-nos os recordes amargos: Portugal é o país que mais vezes se candidatou a Melhor Filme Estrangeiro sem nunca ter amealhado uma nomeação nos Óscares. E, embora o bem conseguido “Cartas da Guerra” (2016), de Ivo Ferreira, tenha acalentado alguma esperança, esta durou muito pouco tempo. Há portugueses nomeados, sim, como o luso Daniel Sousa por “Feral” (2012) em 2014, mas – e é aqui que toca onde dói mais, o orgulho – com projetos feitos nos estrangeiro, neste caso nos EUA.

A dança, essa, continua e continuará. Estamos demasiado distraídos, hipnotizados pela melodia de “La La Land”, a Los Angeles musical, ou inquietos pela densidade de obras como “O Primeiro Encontro” (2016) ou “Lion – A Longa Estrada para Casa” (2016). Não discutimos problemas, discutimos filmes; e, ano após ano, falamos dos outros e esquecemo-nos de nós. Estaremos parados no tempo, ou foi o tempo que seguiu e se esqueceu do país dos “pequeninos”? Vamos evitar discursos humildes. Há talento – e muito – em Portugal. Mas, se nem cá dentro reclamamos o nosso lugar ao sol, como poderemos exigir aos outros que o façam?

Sara Quelhas*

*Mestre em Estudos Fílmicos e da Imagem pela Universidade de Coimbra

Sobre o autor

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