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Junta de Aldeia Viçosa sem dinheiro para pagar dívidas

O novo presidente da freguesia do concelho da Guarda convocou uma assembleia extraordinária onde apresentou cerca de 208 mil euros de dívidas deixadas pelo seu antecessor. No entanto, teme-se que a “herança” seja ainda maior.

«Esperávamos uma dívida de 20 mil euros, mas afinal é superior a 200 mil euros», disse Luís Prata (PSD) a mais de meia centena de populares que marcaram presença na assembleia extraordinária do último domingo. Baltasar Lopes, presidente da Junta de Aldeia Viçosa nos últimos 24 anos, também esteve na reunião.

«Contávamos com 18.545 euros mas a conta estava bloqueada», afirmou o seu sucessor, adiantando que a mesma foi penhorada pela construtora Albino Teixeira à qual a Junta deve quase 40 mil euros. Já as dívidas à Segurança Social, EDP e SMAS ultrapassam os 30 mil euros, sendo as últimas referentes aos contadores do salão e da praia fluvial. «Falava-se de um protocolo em que a Junta não pagava a água mas é para pagar; isto é grave», sublinhou Luís Prata. Já o maior credor é a empresa António Saraiva e Filhos, à qual a Junta deve cerca de 101 mil euros. Por causa destas contas, o Fundo de Equilíbrio Financeiro (FEF) vai ser penhorado em 20 por cento, situação que se repetirá trimestralmente. «Vamos receber 4.633 euros mas os gastos previstos são de 5.200», esclareceu o autarca.

Já as dívidas em tribunal rondam os 166 mil euros, valor que está sempre a aumentar: «Não temos dinheiro para um advogado. Fizemos o pedido à Câmara, mas agradecemos se alguém quiser ajudar de borla», declarou o presidente da Junta, segundo o qual também não há dinheiro para mandar fazer feita uma auditoria, embora a Junta já tenha contratado um contabilista. «A Câmara deu muito dinheiro à freguesia e vamos cruzar dados. Se daqui a um ano a situação for insustentável darei a chave da Junta ao presidente do município», avisou Luís Prata, que tem resolvido algumas situações mais prementes com «o dinheiro de campas que vendemos e com o apoio de vários habitantes». Por sua vez, Manuel Prata disse estranhar que «obras de 2005 e 2008 não tenham sido contempladas no Programa de Apoio à Economia Local (PAEL)» e que a Junta «recebeu 20 mil euros para construir sanitários públicos, mas não os vejo».

De resto, o presidente da Assembleia de Freguesia confessou recear que as dívidas possam ultrapassar «os 200 mil euros». Já Baltasar Lopes aproveitou para justificar as dívidas à António Saraiva, referentes à estrada da Soida: «Debitou trabalhos a mais, pediu cerca de 16 mil euros à Câmara da Guarda e depois 15 mil à Junta pelo mesmo muro», garantiu, acrescentando que «na altura a dívida era de 65 mil euros». O ex-autarca afirmou ainda que «muitas obras começavam em 30 mil euros, mas a Câmara não pagava e foram ficando mais caras». Além disso, Baltazar Lopes admitiu «algum facilitismo» nos protocolos verbais estabelecidos com a autarquia, um dos temas mais controversos da Assembleia. «Se há alguma dívida da luz da praia fluvial eu responsabilizo-me, mas a água é a Câmara que paga», reiterou o antigo presidente de Junta, sendo desmentido de imediato por Luís Prata que garantiu ter a informação de que «a autarquia não deve nada à Junta».

Neste frente-a-frente, Baltasar Lopes mostrou-se disponível para acompanhar o novo executivo: «As obras estão feitas. Vim dar a cara, quem não deve não teme. Às vezes, é preciso mudar de protagonistas para negociar», declarou, tendo abandonado a sala de seguida. Antes do final da assembleia, Luís Prata anunciou que a Junta vai organizar um baile e um torneio de sueca para angariar fundos para construir a casa mortuária. Mas a falta de dinheiro não é o único problema da Junta, é que os eleitos do PS para a Assembleia de Freguesia ainda não tomaram posse nem estiveram na reunião de domingo.

Sara Quelhas Baltasar Lopes foi a presença mais notada na reunião de domingo

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