José Sócrates anunciou que deixou o PS e já entregou o cartão de militante. A saída acontece depois de vários dirigentes socialistas — incluindo António Costa — terem assumido publicamente desconforto com o caso judicial que o envolve.
Num artigo de opinião publicado na edição desta sexta-feira do “Jornal de Notícias”, o ex-primeiro-ministro escreve que «é chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo», para justificar a sua decisão. Sócrates refere-se às várias declarações das últimas horas feitas por alguns socialistas ligados à atual direção do partido como «uma espécie de condenação sem julgamento».
Esta tomada de posição surge após o atual secretário-geral do partido, António Costa, ter declarado, a propósito dos dois casos judiciais que envolvem antigos governantes do partido (o ex-primeiro-ministro Sócrates e o antigo ministro da Economia Manuel Pinho), que «se essas ilegalidades se vierem a confirmar, serão certamente uma desonra para a nossa democracia».
Antes do primeiro-ministro, também o presidente do PS, Carlos César, tinha admitido que o partido sentia «vergonha» com estes casos de justiça, mas perante a situação de Sócrates dizia mesmo que «a vergonha até é maior porque era primeiro-ministro».
Também João Galamba, porta-voz do partido, veio dizer que a situação dos ex-governantes «certamente envergonha qualquer socialista». Nas últimas horas foram vários os altos dirigentes do partido a assumirem posições públicas perante os casos de Sócrates e Pinho diferentes das que tinham sido tomadas até hoje.
José Sócrates entrou para o PS em 1981, foi líder da federação socialista de Castelo Branco três anos depois e chegou a deputado pelo partido em 1987, era líder Vítor Constâncio. Mas foi na liderança de António Guterres que Sócrates ganhou relevo no partido, integrando pela primeira vez um Governo quando era Guterres o primeiro-ministro. Foi em 1995 que foi secretário de Estado do Ambiente, passando depois para ministro Adjunto do primeiro-ministro. No segundo Governo de António Guterres (1999-2002), o socialista chegou a ser ministro do Ambiente e, mesmo na reta final deste Executivo, ainda foi ministro do Equipamento.
Anos depois, em 2004, candidatou-se à liderança socialista, derrotando Manuel Alegre e João Soares. Dois meses depois de assumir a liderança do partido, o Governo de Santana Lopes é demitido e o Presidente Jorge Sampaio convoca novas legislativas. Sócrates candidata-se e vence com a primeira e única maioria absoluta da história do PS. Sai do Governo em 2011, na sequência do chumbo de medidas adicionais ao Programa de Estabilidade e Crescimento e com o país à beira de um pedido de resgate financeiro.
Em novembro de 2014 é detido no âmbito da “Operação Marquês”, uma investigação judicial ao ex-primeiro-ministro por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Na sequência do inquérito, José Sócrates foi acusado de 31 crimes em outubro passado, mas só agora — depois de surgir mais um caso a envolver outro membro do seu primeiro Governo — o PS disse mais sobre o assunto do que remeter para a justiça um tema que dizia ser da justiça.