José Gil dos Santos Carvalho saiu em busca da aventura e melhores dias com 20 anos de idade e regressado a Portugal e à sua terra, considera-se hoje um homem de sucesso e de inovação, com uma nova mentalidade empresarial.
Nascido em 1958 na freguesia de Reboleiro, concelho de Trancoso, é hoje um próspero empresário na área dos isolamentos térmicos.
Emigrou primeiro para a França, onde não conseguiu os necessários documentos, tendo regressado a Portugal dois anos depois. Acabou por arranjar um contrato na Suíça onde começou a trabalhar como trolha e a contactar com materiais, até então, pouco conhecidos na sua região, como esferovite e outros materiais de isolamento, o que lhe chamou a atenção. Gostou da situação, foi pedir trabalho em Fribourg, onde conseguiu os seus objectivos, acabando por lá ficar durante 16 anos a trabalhar no ramo.
José Gil regressou a Portugal há 14 anos e criou, em Castaíde, localidade próxima de Trancoso, a Isogil, uma empresa onde continuou os conhecimentos e a actividade adquiridos na Suíça.
Aliás, no seu cartão de apresentação, faz questão de referenciar “material suíço” que defende pela qualidade. O empresário recorda que a aventura na França foi um bocado difícil: «Não sabia falar francês, foi um pouco complicado enquanto que na Suíça, trabalhei muito, mas valeu a pena, porque aprendi lá muita coisa que me serviu no futuro e ainda hoje me estou a servir daquilo que aprendi. Consegui ter uma outra mentalidade que não se tem em Portugal», considera.
«Lá trabalha-se de uma forma totalmente diferente. Aqui não há horários, nem pontualidade, enquanto que na Suíça se se diz que é as cinco horas é mesmo a essa hora, não se brinca. Há outra responsabilidade que não há aqui. Aqui é o sistema do faz-se tudo, enquanto que lá não. Um carpinteiro é um carpinteiro, um trolha é um trolha, o sistema é muito diferente daqui», garante. Como exemplo, cita a sua experiência: «Já estou há 14 anos em Portugal e só trabalho em isolamentos térmicos, não faço misturas, somos profissionais», frisa.
Recorda que as dificuldades foram muitas no estrangeiro, por desconhecimento total do local de destino e por não entender o que lhe diziam porque «explicavam e não se entendia o que queriam dizer. Uma pessoa pensava que estava a fazer os trabalhos bem e, afinal, não os estava a fazer correctamente. Outra dificuldade foi o comer muito à base leite, muito diferente de Portugal», adianta. Mas, segundo diz, «depois, de começar a entrar ao nível deles, as coisas começaram a andar e aperfeiçoaram-se progressivamente.
Regressado a Portugal, José Gil dos Santos Carvalho radicou-se no Reboleiro, sua terra natal, começando por trazer material de isolamento térmico da Suíça, mas como havia algumas dificuldades de instalação na povoação, decidiu ir para mais junto de Trancoso e acabou por ficar em Castaíde, a quatro quilómetros da “cidade Bandarra”. Ali foram construídos dois armazéns, uma área comercial para materiais e ferramentas.
José Gil define-se como uma pessoa que nunca está ou se sente realizado, ao ponto de dizer que «procuro ir mais além sempre, nunca baixei os braços», sublinha. Hoje, a Isogil é uma empresa próspera dedicada aos isolamentos térmicos, “pladur” e a gessos, não “mexendo” com cimentos, vigas, tijolos ou blocos. Esta é uma área nova, de que muito pouca gente falava, e foi devido ao seu trabalho e investimento que os isolamentos térmicos hoje utilizados se implantaram numa região em que as amplitudes térmicas são grandes, com Invernos frios e Verões secos e quentes.
À pergunta se hoje emigraria, José Gil diz peremptoriamente que «não» e justifica: «Quando regressei a Portugal, vim com ideias fixas de trabalhar porque, se na Suíça o fazia, não poderia chegar à terra e mandar trabalhar os outros, e trabalho tanto como os empregados», garante. É peremptório em afirmar que não voltaria a emigrar porque «teria de levar uma “bombada” muito grande para que isso voltasse a acontecer». Concorda que o sentimento de saudade de Portugal e da terra existe sempre em quem parte um dia, confessando ser uma pessoa polivalente que, desde que tenha a vida organizada, não tem dificuldade em se adaptar. «Mesmo que hoje tivesse de sair, não teria grandes dificuldades em me adaptar», sublinha. Quando radicado na Suíça, vinha sempre a Portugal, em Agosto e no Natal, para ver a família, mas também desfrutar um pouco da casa, que já foi feita depois de emigrar. Justifica o facto de muita gente estar de novo a emigrar devido à crise, sobretudo na região do interior porque «não há grandes saídas, existe apenas a construção e esta está também em baixa. Não há fábricas onde as pessoas se possam empregar, mas, certamente, se aqui se trabalhasse como se trabalha no estrangeiro, muitos não teriam necessidade de sair daqui».
José Gil entende que é necessário mudar muito a mentalidade do português para haver inovação e criatividade. «As pessoas vão daqui para fora e fazem tudo e mais alguma coisa e aqui, se se lhes manda fazer algo, já não pode ou não quer», constata.
Em tom de crítica, considera que «em Portugal as pessoas têm de se mentalizar que uma pessoa se forma, mas muitas vezes é só no papel, porque depois vai para o terreno e não sabe trabalhar. Têm de se mentalizar que para que as coisas funcionem, têm de ir para o terreno trabalhar dois, três dias por semana e depois irem para a escola dois ou três dias, conciliando as duas coisas», sustenta. A única filha de José Gil está já a seguir as pisadas do pai e assume mesmo as responsabilidades da empresa deste ex-emigrante de sucesso que demandou terras de França e da Suíça e hoje é uma referência empresarial.
José Domingos