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Jornalismo de cordel

Agora Digo Eu

Herege. Pagão. Blasfemo. Traidor.

O epiteto estava lançado e fazia com que Tomás de Torquemada condenasse, sem dó nem piedade, nem direito à defesa, o infeliz que não conseguindo fazer prova da sua fidelidade ao ideal definido pelos conceitos sefarditas, era atirado para a fogueira, em lume brando, num autêntico exercício baixo, sujo, deveras ordinário daquilo que alguém designa por informação.

Neste tempo pré-eleitoral é necessário e imperioso que a imprensa atue de forma responsável e as motivações de alguns profissionais não tragam ao de cima simpatias e motivações esquisitas e até partidárias, devendo, todos os fatos serem narrados com objetividade e imparcialidade.

É que nesta profissão há quem tenha posturas e propósitos onde os objetivos, facilmente identificados, atiram e acertam em alvos específicos, percebendo-se que há inúmeros políticos a fazerem jornalismo e alguns jornalistas a fazerem política.

Para fazer boa rádio, tv e jornais exigem-se bons jornalistas, havendo necessidade de denunciar os profissionais tendenciosos, desonestos, incompetentes e inconscientes. Pierre Bourdieu afirma «o que existe de mais terrível na comunicação é mesmo o inconsciente da comunicação».

Informar é também perceber que de tanto observar também se está a ser observado e o comportamento determina que se atue com ética, verticalidade, excluindo a suspeição, a censura, as montagens interesseiras, os velhos truques, sabendo distinguir o tempo e a verdade mediática do timing político, não correndo atrás do boato, de fontes duvidosas, do “show business”, percebendo, junto do ou dos protagonistas, a razão ou as razões da presença no acontecimento. O vale tudo não é nem pode ser considerado rigor, porque, quer se goste, quer não, quer se aproveite o momento, quer não, a ética e rigor têm de estar associados e sempre presentes.

E se uma fotografia na imprensa vale mais que mil palavras também aqui é necessário entender e saber o quê e o porquê, pois se a mesma não tiver legenda, ninguém sai bem, ninguém é considerado inocente e as pretensas justificações ou considerações serão sempre acidentais e hipócritas e resultam da má-fé de quem publica e do posterior julgamento público. Neste contexto, assumindo princípios e valores de sempre, prezando a amizade, independentemente do credo ou da cor partidária, a imprensa impiedosa gosta e goza, única e exclusivamente, do espetáculo que pode oferecer. Mesmo assim, seguindo o princípio inquisitório do Santo Ofício, o mérito é sempre da vítima e a vergonha recai no inquisidor que a queima.

Segundo o ditado popular “tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica à porta” torna-se necessário interpretar a motivação de quem vai ou de quem fica, sendo que afinal o ladrão que vai à vinha vai com intenção de roubar enquanto com o que fica à porta, poderá querer o fruto do roubo, ou não… sendo essencial perceber o conceito, a motivação e a intenção, pois socorrendo-nos de um outro ditado, “quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”, quando contado, por folhetos circunstanciais de desenho esquisito, intencional e duvidoso, onde ninguém fica bem na fotografia, ninguém fica a ganhar, feito dessa forma, só pode e tem de ser considerado o melhor do jornalismo de cordel…

Por: Albino Bárbara

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