«Os miúdos adoram tudo o que sai da normalidade», garante José Luís Lopes, antes de começar uma aula de Educação Física na gélida sala do ginásio. «Professor, vamos jogar de cadeira de rodas?», pergunta entusiasticamente Andreia Proença, de 10 anos, do 5º A. O professor nem respondeu para manter a dúvida nos miúdos que já estavam impacientes. «Hoje vamos jogar Goalbal, que é um jogo que exige muito silêncio», anuncia. O Goalball é praticado por invisuais que utilizam outros sentidos, como o tacto e a audição. O objectivo do jogo é marcar, por isso as duas equipas, constituídas por três elementos, vão atacar e defender, «mas de olhos tapados», avisa. «Aqui a bola tem que andar sempre pelo chão, apesar de no jogo oficial não ser bem assim»», refere o docente. Depois de conhecidas as regras do jogo, os miúdos ficaram ainda mais agitados na ânsia de jogar. A bola é rematada pelo chão, os jogadores colocam-se em posição de defesa e apuram o sentido auditivo. «A táctica é simples: pés unidos, pernas esticadas e mãos unidas», indica José Luís Lopes. O apito inicial é dado pelo professor e a bola sai da equipa das meninas, mas logo no primeiro remate Andreia Proença retirou instintivamente a venda para ver onde estava a bola e é repreendida pelo professor. O jogo continuou, afinal, também ele se tinha esquecido de indicar esta “proibição de ouro”.
Apesar dos escassos minutos, a partida foi renhida, mas os rapazes acabaram por vencer com um destemido golo. No final, quando tiraram as vendas dos olhos, a surpresa foi geral porque nem todos estavam na posição inicial, como a Clara Sousa, que se achou no sentido contrário. De facto, com os olhos vendados «a percepção da realidade deixa de ser a mesma e é muito difícil jogar assim», constata a pequena Andreia Proença. «Agora vou passar a olhar para as pessoas com deficiência de outra forma», garante, enquanto o professor desafia todos a olharem para essas pessoas especiais com «mais respeito e tolerância». Noutro ponto do pavilhão, os alunos do 8ºB experimentam outras sensações. O Boccia é actualmente o desporto com maior expressão para os grandes incapacitados funcionais. Trata-se de um jogo de precisão de movimentos, de estratégia e de controlo emocional. «É muito semelhante ao jogo da petanca», explica Leonel Reis, também professor de Educação Física, pois existem dois conjuntos de seis bolas de cor diferente (azul e vermelho) e o objectivo é pontuar colocando o maior número possível de bolas junto da bola branca que serve de bola-alvo. O Boccia é uma modalidade para jogadores que possuem «grandes limitações a nível motor e utilizam cadeiras de rodas», indica o professor antes dos alunos começarem a jogar. Por isso, o gesto técnico pode ser efectuado com os pés, mãos ou recorrendo a um dispositivo auxiliar.
Também aqui os alunos depositaram todo o seu entusiasmo e disputaram todos os centímetros. Para Helena Pissarra, do 8ºB, este foi o seu jogo preferido e elogia a iniciativa da escola, «porque assim percebemos melhor as limitações motoras de algumas pessoas». Mas o jogo que granjeou mais adeptos foi o basquetebol em cadeira de rodas. Para Ana Santos e a Raquel Teixeira, ambas do 8ºB, essa foi mesmo a actividade mais divertida. «Mas ao mesmo tempo triste, porque sentimos na pele como se vive com limitações físicas e constatamos que é difícil», refere Ana Santos. No final também a turma do 5ºA acabou por jogar todas as modalidades. E o entusiasmo era tão grande que Luís Vendeiro não hesitou em afirmar: «Foi a melhor aula de Educação Física que já tive».
Patrícia Correia