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IVAmos repetir o erro?

O IVA aumenta de 19 para 21% para fazer frente aos 6,83% do défice. Acontece que esta atitude vem contrariar, em tudo, o que José Sócrates afirmara durante a campanha eleitoral. Disse, reafirmou, prometeu e voltou a prometer que não haveria subida de impostos. Existem artigos de opinião, entrevistas e debates em que as suas palavras ficaram expressas. Passaram apenas dois meses – dois meses, nada mais – e José Sócrates faltou já à sua palavra, à palavra dada aos eleitores, à palavra dada aos portugueses. E como diz o povo, o problema não é que tenha mentido, o problema é que a partir de agora ninguém mais confia.

A desculpa é a surpresa perante o elevado valor do défice. Mas qual surpresa? Toda a gente sabia que o défice dos 3% era com base em receitas extraordinárias, e que o valor real ultrapassava em muito os 5%. Sabia-se que as receitas fiscais estavam a diminuir com a desaceleração da economia, e que a taxa de desemprego agravava as despesas com a segurança social. Só por aqui era de prever um aumento substancial do défice. Nem é preciso ser economista.

Quando o PS prometeu não subir os impostos já sabia os valores do défice. O que mudou, é que deixou de ser um partido na oposição e é agora um partido de governo.

O aumento do IVA vai baixar o poder de compra dos portugueses, vai destruir o débil equilíbrio financeiro das famílias, vai envenenar o planeamento económico das pequenas empresas. O aumento dos combustíveis vai estrangular pequenas empresas.

Assim, as empresas deixarão de ser competitivas – sobretudo perante a ofensiva comercial espanhola – o desemprego vai aumentar, o crédito malparado vai disparar, os subsídios sociais subir em flecha. A economia vai arrefecer e os resultados, a médio-prazo, serão inversos ao esperado. Argumenta Sócrates, que o PSD também aumentou o IVA de 17 para 19%. É verdade. Mas a triste situação em que estamos é a prova cabal que a solução não foi a correcta. Permitiu verbas a curto prazo e aumento do défice a médio prazo. Persistir no erro revela falta de visão.

Ainda bem que não aumentou o imposto sobre o álcool, sempre o povo português pode afogar as mágoas. Mas é fraca consolação….

Um “NÃO” na engrenagem europeia…

França disse «NÃO». No momento em que escrevo não sei o resultado do referendo holandês, mas aposto igualmente na vitória do NÃO. Se assim for, pode tocar o requiem pela Constituição Europeia, que moribunda dança a caminho da sepultura. No meu último artigo mostrava igualmente a minha disponibilidade em votar pelo NÃO e… – abençoados críticos – logo me disseram que não tinha apresentado nenhuma critica sólida ao projecto de constituição, mas sim uma critica à própria União Europeia. É verdade.

Mas pergunto, quais são as críticas do povo francês à Constituição? Mas quem é que leu o projecto da constituição? Mas quem foi o político que explicou o objectivo da constituição? Em Portugal quem abordou – mesmo ao de leve – este assunto? Quem é que sabe do que estamos a falar? Ninguém!!!!

O voto no NÃO é um voto de protesto ao caminho que a União Europeia leva. Ao seu liberalismo, à sua incapacidade de entender o perigo da globalização da economia, ao seu estrangulamento da capacidade produtiva dos países mais pequenos, ao seu alargamento desmedido e nem sempre bem meditado para países de leste, e à própria Turquia.

O projecto da Constituição é só o grão que os cidadãos podem meter … e querem meter na engrenagem! Os cidadãos que nunca foram ouvidos querem agora fazer sentir a sua voz. E eu também estou para “aí virado”, estou mesmo! E parece que não estou sozinho….!

Por: João Morgado

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