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Isto não está para promessas…

Editorial

1. Álvaro Amaro conseguiu unir o PSD à sua volta e deixar o agora independente Manuel Rodrigues praticamente isolado. Aliás, o ainda presidente de Gouveia, nas primeiras semanas de pré-campanha, com maestria, deu protagonismo àqueles que poderiam ser seus críticos dentro do PSD – os “homens” da concelhia de Rodrigues – para aparecerem a dar a cara pela candidatura evitando assim o que aconteceu há quatro anos.

Por outro lado, Amaro foi incluindo militantes e cidadãos distantes do partido e conseguiu cedo um acordo com o CDS. Foi somando apoios relevantes na “sociedade civil” e foi criando uma dinâmica de vitória, como há muito não se via pelas bandas laranjas da Guarda.

Mas, no fim-de-semana passado, o candidato cometeu dois erros. Ao tornar pública a lista com todos os nomes candidatos a vereadores do seu putativo executivo estragou mais do que construiu. Desde logo, porque os seu elementos são maioritariamente pessoas estranhas ao PSD e desconhecidas no concelho – como o próprio Amaro de quem as pessoas sabem pouco mais do que o nome. Depois, passou um atestado de menoridade ao partido ao recusar os seus quadros para ir buscar fora – inclusive pessoas cuja orientação política era até agora muito distante do partido da seta e a quem não se reconhece um currículo cívico que mobilize ou uma ideia para a cidade. … e isto vai ter consequências.

Por último, a apresentação pública dos candidatos: Festa bem organizada, num espaço arriscado, efeitos de imagem bem conseguidos e que disfarçaram a modesta afluência de pessoas. Álvaro Amaro apresentou as ideias base da sua candidatura, as suas propostas «para contrariar o fatalismo em que a Guarda caiu». Se os nomes da lista já não acrescentavam votos à candidatura, que dizer de um pacote de propostas que, maioritariamente, são ideias, projetos ou assuntos há muito debatidos na cidade, mesmo sendo certo que são importantes e que faz sentido a sua execução. Se tivesse lido “Arte da Guerra” Álvaro Amaro saberia que numa grande batalha não se utilizam todas as armas na primeira contenda, pois é necessário reservas para as posteriores, mas para os lados de Gouveia não se lê Sun Tzu e assim não haverá mais momentos fortes e de festa para apresentar algum tipo de novidade e criar algum entusiasmo ou impacto (e como se viu pela assistência de pouco mais de 300 pessoas, ainda é cedo para o povo sair à rua e participar ativamente na campanha).

2. Se a lógica partidária funcionar, o Partido Socialista tem 10 a 11 mil votos no concelho da Guarda (em todas as eleições, desde os anos 80, tem tido mais). Joaquim Valente acrescentou alguns e teve há quatro anos 13.900. José Igreja começou por destruir alguma base de apoio com um conjunto de dislates e com os putativos integrantes da sua lista. Começou por dizer que ia fazer «uma limpeza» e não levava ninguém do atual executivo, mas já percebeu que se precipitou e poderá levar pelo menos Elsa Fernandes e assegurou Fernando Cabral para tentar ganhar a Junta urbana, e vai ter mais nomes fortes – antes descartáveis. Esta inflexão poderá permitir uma nova vida de candidato a Igreja. Aliás, muitas pessoas já dizem que Igreja foi quase deputado, foi quase governador civil e agora «seria quase presidente»…

O PSD tem uma base eleitoral no concelho da Guarda de cerca de sete mil votos, a que Amaro acrescentou já mil votos do CDS. E a que, com os nomes propostos e o “programa” avançado, não deverá conseguir acrescentar mais nenhum. Pode até perder alguns se Passos e Portas continuarem a brincar com o país. Mas, ainda assim, com a divisão entre socialistas, o PSD tem a primeira grande oportunidade de ganhar a Câmara da Guarda. O que só não acontecerá se cometerem muitos erros.

A candidatura de Virgílio Bento e Manuel Rodrigues (primeiro e segundo nome para o executivo da lista “independente” – que só o é porque os respetivos partidos não os quiseram para candidatos) poderá roubar pouco mais de mil votos ao PSD mas deverá roubar muitos mais ao PS. Entre as juntas de freguesia e o “peso” dos apoios e dos integrantes da lista na cidade, Bento poderá mesmo ser o maior obstáculo de Álvaro Amaro na corrida ao poder da cidade. Dois meses passam depressa, mas falta muito para o eleitor indeciso fazer as suas opções.

Luis Baptista-Martins

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