‘Tá-se? Há já bué da time que andava a pensar numa cena, tipo, como seria escrever um artigo para um jornal, tipo, o “O Interior”, mas ao mesmo tempo caricaturando, tipo, a forma bué esquisita como o nosso people mais jovem, tipo, comunica entre si e com os cotas.
Este “tipo”, tipo, é um tique de linguagem buésd’a irritante quando, perante nós, está um adolescente que, tipo, em vez de fazer uma pausa para pensar no que vai dizer a seguir, não o faz e, tipo, envia para a frente de batalha do seu discurso mais ou menos lógico um irritante e omnipresente “tipo”. Consequência: Para ouvidos menos treinados, népia puto, o discurso pode tornar-se bué difícil de compreender.
Que cena! Já deve haver por aí people a grizar-se todo, tipo, a pensar o qué que se passa comigo, mas confesso que estou a dar-lhe bué para fazer passar esta minha mensagem. Continuemos, portanto.
Para um cota como eu, professor e pai, as linhas de combate à praga do “tipo”, são feitas em duas frentes o que é bué cansativo. Lá por casa, e também nas aulas, sempre que, tipo, é possível e tenho paciência, travo essa batalha contra estes dois inimigos do discurso fluido em língua portuguesa, referindo, tipo, que “bué” e “tipo” não são termos para serem usados, tipo, a toda a hora.
Claro que se devem grizar bué nas minhas costas, tipo, questionando a minha quixotesca investida contra a sua forma de falar. Por todo o lado, tipo, na televisão, na net e na rua só se ouve falar desta maneira entre os jovens e o problema é que começa a alastrar a alguns adultos, não se nota?
“Será que o tipo, tipo, ainda não se apercebeu que este vocabulário veio para ficar?” – dirão.
O termo, “muito”, para quantificar algo, está quase extinto do vocabulário dos nossos jovens porque, tipo, “bué” é muito mais fashion e ainda por cima demora muito menos a pronunciar.
O que seria de um jovem se se atrevesse a proferir, em pleno intervalo, a seguinte frase: “Eu penso que nós, os jovens, do que gostamos mesmo é de beber uma grande quantidade de álcool, fumar cigarros ou outras substâncias e depois, já bem compostos irmos dançar até de madrugada, até deixarmos de nos aperceber que o animador musical já não está a fazer bem as passagens de tão bêbedo”. Catástrofe! Adeus garinas, adeus estilo. Ostracização mais do que certa! “O qué que se passa contigo dread? Com essa linguagem passamos de ti a mil puto, estás tão last week man! Saíste agora do Seminário? Esse tipo de linguagem está, tipo, buésd’a errada” – diriam, tipo, em uníssono. “Vá lá, vamos-te ensinar comé que poderias ter dito o mesmo mas muito mais fashion e depressa. Butes lá?” – acrescentariam.
O que deverias ter dito era:”O people curte bués d´enjorcar um molho de jolas, pipar uns canhões e ir desbundar a náite ao ponto de nem topar que o disc-jockey já está a mandar uns pregos de tão passado. Topas?” e rematariam dizendo: “Ya, demos-lhe bué, mas agora vamos mas é bazar porque o profe já está na sala e vai começar a tripar se chegarmos atrasados, se bem que o people se passa dele a mil para essa cena”.
Ufa! Já estou cansado de utilizar esta linguagem “moderna”. No entanto, o objectivo deste artigo mal escrito foi o de alertar para a degradação da língua portuguesa falada e ver o quão chocante pode ser quando a vemos escrita. Cabe aos pais e educadores alertar os nossos jovens para a sua forma de se expressarem na língua materna e corrigi-los. Fazê-los entender que até podem andar andrajosos, com os boxers à mostra e as calças com a cintura presa à dobra dos joelhos, mas deverão evitar vestir-se mal na sua língua. Fica-lhes mal e fechar-lhes-á portas nas relações sociais enquanto adultos e em futuras entrevistas para os escassos empregos qualificados.
Se, por acaso, não passou deste artigo a mil mas, no entanto, não compreendeu algumas partes do texto, resta-lhe chamar os tradutores de serviço que tiver mais à mão. Recomendo-lhe os seus filhos ou vizinhos em idade escolar. ‘Tá-se bem…
Por: José Carlos Lopes
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