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Investigadora mede níveis de radão na Guarda

Projecto “SOS Radão”, no âmbito da tese de doutoramento de Alina Louro, quer conhecer as concentrações médias nas habitações da região para ser elaborado um mapa de risco

Está em curso, na Guarda, o projecto “SOS Radão”. A cargo do departamento de Física da Universidade da Beira Interior, a investigação, realizada no âmbito da tese de doutoramento de Alina Louro, docente da Secundária Afonso de Albuquerque, destina-se a conhecer as concentrações médias de radão nas habitações da região para ser elaborado um mapa de risco. A autora pretende ainda estudar os riscos, para a saúde humana, da exposição a este gás radioactivo, cujos níveis são elevados na zona da Guarda devido ao subsolo granítico.

«Falar sobre radão não é fácil quando a temática da radioactividade natural apresenta uma conotação extremamente negativa na sociedade, em geral, e para os habitantes da Guarda, em particular», reconhece Alina Louro no texto de apresentação do projecto. Lembrando que a Guarda tem ocupado «um lugar de destaque na lista das cidades radioactivas do país», a investigadora espera, com este trabalho, informar o público e ajudar a resolver o problema do radão habitacional. «As escolas da cidade têm sido, constantemente, rotuladas como perigosas e com necessidade de intervenção urgente. As habitações têm sido objecto de leituras instantâneas, seguidas de conclusões também instantâneas, quase precipitadas. Afinal, quais as concentrações médias de radão nas habitações da Guarda? Quem efectua essas leituras? Com que rigor são feitas? Onde pedir ajuda?», interroga a professora da disciplina de Física na Afonso de Albuquerque.

Além de identificar as concentrações médias de radão nas habitações da região, o projecto “SOS Radão” quer contribuir para solucionar «problemas concretos» em habitações e também medir os níveis deste gás radioactivo nas águas de poços, minas e furos existentes nas imediações da Guarda. Numa primeira fase, os dosímetros serão colocados em 160 casas – sorteadas aleatoriamente, via ficheiros dos SMAS – da área urbana da Guarda e das freguesias rurais que a circundam. Estes aparelhos serão recolhidos passados 60 dias por colaboradores devidamente formados para o efeito. Os interessados em ajudar devem inscrever-se no Gabinete da Protecção Civil Municipal, na Câmara da Guarda, ou enviar um e-mail para ajudaradao@lip.pt e aguardar pelo contacto.

Valores mais elevados do país

Ainda não se sabe muito bem quais as consequências que uma convivência permanente com valores de radioactividade elevados pode trazer aos habitantes da Guarda, onde os níveis de radão, o gás radioactivo, são os mais elevados do país, atingindo os 120 becquerel por metro cúbico. Um dado assustador e uma cortina atrás da qual se avolumam, cada vez mais, as incertezas quanto à sua influência na elevada incidência de casos de cancro das vias respiratórias e estômago na região. O distrito da Guarda foi, ao longo do século XX, um local privilegiado de extracção de urânio. As minas, agora abandonadas, de Quarta-Feira e da Bica, Sabugal, da Granja, perto do Jarmelo, ou do Barracão, Guarda, foram talvez as mais activas da região e são agora a única imagem de um perigo invisível que nos rodeia. Mas as características da rocha granítica, que possui elementos radioactivos, aliadas ao elevado teor de radão encontrado, em 98, pelos investigadores do Departamento de Protecção Radiológica e Segurança Nuclear do Instituto Tecnológico e Nuclear do Ministério da Ciência e Tecnologia nas construções do distrito, bem como a utilização das águas que inundaram algumas das antigas zonas de exploração na actividade agrícola da zona, não devem deixar os guardenses descansados.

Luis Martins Cidade tem registado os valores mais elevados do país deste gás radioactivo

Investigadora mede níveis de radão na Guarda

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