1. Os Relatórios e Contas, relativas aos anos de 2005 e primeiro semestre de 2006, permitem concluir que, nos principais bancos operantes no mercado português, o contributo dos negócios internacionais para a formação do resultado bruto do exercício correspondeu a uma percentagem entre 20 e 35%. E numa tendência que indicia ser crescente.
2. Para melhor se perceber este fenómeno talvez seja conveniente recordar as principais tendências do Meio Envolvente Contextual com que se deparam as instituições financeiras portuguesas:
i. Intensificação e harmonização regulamentar, o que vem aumentar os custos de actuação no mercado (compliance costs) e suscitar um acréscimo concorrencial. Salientem-se alguns: acordo de Basileia 2, DMIF/MiFID, mercados grossistas, SEPA, Prospectos de emissão,
ii. Integração económica e financeira dos mercados,
iii. Convergência do padrão de aquisição de produtos e serviços financeiros por parte dos cidadãos da União. O que tenderá a levar ao aumento das aquisições transfronteiriças.
3. Adicionalmente as instituições portuguesas defrontam-se com as limitações próprias de mercados domésticos, de dimensão reduzida e periféricos. Não sendo exaustivo, podem-se realçar:
a. Reduzidas oportunidades de manutenção do movimento de concentração doméstico. Independentemente do desfecho da OPA do BCP sobre o BPI.
b. Desvantagem de custos:
i. Menores economias de escala;
ii. Inferiores sinergias operativas (falta de escala, menores oportunidades de economias de gama);
iii. Menor acesso a capital para expansão e maior custo do mesmo.
c. Reduzida dimensão e eventual dispersão do capital pode tornar os bancos portugueses mais vulneráveis a processos de aquisição ou de reestruturação empresarial.
4. O desafio passa pela capacidade de continuar a terem autonomia estratégica, para o que é essencial a manutenção de adequados níveis de rendibilidade (dada a situação periférica portuguesa, isto implica um prémio face a outros mercados mais centrais da Europa).
5. A internacionalização pode ser uma forma de elevar a rendibilidade das instituições financeiras portuguesas.
6. Os mercados de retalho financeiro têm permanecido predominantemente locais, pelo que vários especialistas apontam-nos com tendo o maior potencial de desenvolvimento e de aquisição transnacional. As instituições portuguesas têm estado atentas e entre as suas opções de expansão contam-se aquisições de bancos locais ou a criação de bancos desde a raiz.
7. Por fim, deve-se atentar que a capacidade de uma Economia ser capaz de ter uma forte presença internacional em bens e serviços transaccionáveis constitui um forte estímulo ao desenvolvimento dos países. Não decerto por acaso fortuito, tem sido esta a via recomendada para Portugal. Um verdadeiro DESAFIO ESTRATÉGICO.
8. Aqui os Bancos portugueses têm um papel importante, pois é conhecido desde há muito, o papel de estímulo que a expansão internacional das maiores empresas de uma dada Economia exercem sobre as empresas situadas em sectores relacionados ou de suporte. Veja-se o caso das PME espanholas, em verdadeira fúria de internacionalização, à boleia da Telefónica, Ibéria, Iberdrola, BBVA, Santander, ….
Por: Paulo Gonçalves Marcos *
* Depois de quatro anos ausente, Paulo Gonçalves Marcos regressa às páginas de “O Interior”, com crónica mensal. É Economista e professor da Universidade Católica de Lisboa e Quadro Directivo do Banco Espírito Santo.