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Interior vs Litoral

Editorial

As próximas autárquicas são a 1 de outubro e a campanha começou esta semana. Na verdade, a “coisa” já começou há muito. Para os autarcas que se recandidatam, começou no dia em que tomaram posse há quatro anos. Ou pelo menos no dia seguinte, quando começaram a planificar o mandato, a definir as prioridades e, sempre, com os olhos postos nas próximas eleições tomaram decisões de acordo com o programa sufragado ou com as opções do agrado da maioria e especialmente das clientelas.

As autárquicas são a festa do poder local. Vota-se pelo partido e vota-se pelas pessoas, pelos amigos, pelos líderes em que se acredita, e que podem não ser do partido em que se vota nas legislativas. E vota-se pelo projeto ou ideia que diga respeito a cada um; pela promessa de obra; por resolver este ou aquele problema no bairro ou no lugar; por uma utopia; por um sonho que é de cada um, mas pode ser de todos. As escolhas, nas autárquicas, podem ser ideológicas (isso era antigamente), mas são essencialmente pragmáticas, pelo emprego, pelo emprego do filhos, «pelos nossos»… Por isso, ou também por isso, a atração de investimento e o emprego são o denominador comum a todas as candidaturas autárquicas, no interior e por todo o país.

Por tudo isto, as eleições de 1 de outubro são «as mais importantes das nossas vidas» e as mais importantes de todos e cada um dos candidatos. São importantes para os cidadãos porque estamos no fim da linha e o que não se puder fazer nos próximos anos (próximo mandato) jamais será feito, porque depois já não há pessoas; o que não mudarmos agora, em prol da atração de empresas e criação de emprego, jamais ocorrerá; o que não conseguirmos agora, e nos tempos mais próximos, depois será tarde demais. Os concelhos do interior envelhecidos e despovoados não terão mais oportunidades.

Aos candidatos deixamos para estes últimos dias um repto: mais do que promover as clivagens entre os resilientes que ficaram (e que, todos, independentemente da cor partidária, querem o melhor para as suas terras) defendam propostas exequíveis e lutem contra o poder central e centralizador. Reivindiquem e protestem de forma veemente com Lisboa pela falta de solidariedade nacional. Exijam em uníssono, numa frente regional pelo futuro da região, investimento público e apoio financeiro às empresas do interior: uma fiscalidade mais baixa para as empresas e trabalhadores; transferência de serviços públicos para os distritos de baixa densidade; redução de cursos e vagas nas universidades do litoral, transferindo-as para as escolas do interior (assegurando não apenas a viabilização da UBI e do IPG mas inclusivé contribuindo para o seu crescimento); mais estágios e estágios com bolsas públicas mais altas, nas empresas e em organismos públicos…

Estas são sugestões que deviam aproximar todos os candidatos numa “frente” pelo futuro da região “contra” Lisboa. Só há futuro para quem quer ficar no interior se houver emprego, se houver criação de riqueza, se houver capacidade de reivindicar e houver transferência de serviços, financiamentos e projetos do litoral para o interior. Sem essa mudança de paradigma o interior será cada vez mais um gigantesco centro geriátrico.

Luis Baptista-Martins

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