Esta semana, um tribunal angolano mandou prender Luaty Beirão, um tribunal brasileiro proibiu um tribunal brasileiro de mandar um tribunal brasileiro impedir que Lula respire, e o presidente Marcelo Rebelo de Sousa deu uma aula de macroeconomia em directo na televisão. Assim se faz a lusofonia de toga, entre as tropicais repúblicas de juízes e a mediterrânica república de catedráticos.
Mas o assunto realmente importante dos últimos dias veio da internet – onde, aliás, está quase tudo o que é importante para a vida intelectual e sexual do homem moderno. A história começa com a ideia da Microsoft de criar uma conta no Twitter onde as mensagens fossem escritas por inteligência artificial. A ideia da Microsoft era revolucionária. Já que a inteligência natural não pulula no Twitter, talvez uma artificial ajudasse a criar um ambiente menos hostil à presença do homo sapiens.
Assim pensou, assim fez. Na passada semana, a Microsoft lançou um chatbot, abreviatura de chatterbot, designação genérica de um software de conversação, mas também da expressão usada para falar de um gajo que nunca se cala, um “chato de botas”.
A Microsoft afirma que programou Tay para parecer uma pós-adolescente no Twitter, mas fechou-lhe a conta quando Tay começou a produzir tweets como se fosse Donald Trump ou o Capitão Haddock com síndrome de Tourette. Depois de Tay repetir as alarvidades de outros twitters, tais como “os judeus fizeram o 11 de Setembro”, “Hitler tinha razão” ou “o feminismo é uma doença”, a Microsoft pediu desculpa porque não esperava que os utilizadores do Twitter e da internet expressassem desta forma atitudes intolerantes, racistas e misóginas. Se calhar, os programadores da Microsoft deviam usar mais a internet. Além da oportunidade de conhecer melhor a linguagem dos símios, também poderiam iniciar a sua vida amorosa.
Por: Nuno Amaral Jerónimo