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Insultos

Bilhete Postal

Quase de certeza que não se insultam os cães entre si e não trocam mimosas palavras os alces no cio. Será estranho, ou até perverso, imaginar o insulto dos peixes no cardume. Eles serpenteiam, regressam à formação inicial, as presas circundam-nos e eles dançam numa fuga encenada e coordenada. Lavrarão insultos as formigas? Trocarão indecências as abelhas? Estou em crer que o crocodilo não vocifera ao boi-cavalo quando lhe arranca as entranhas. Estou certo que o leão não pensa mal da gazela quando lhe prepara a armadilha. Porque se destratam os homens? Porque se maltratam e maldizem as pessoas? Será que os bichos não têm inveja? Ciúme, já vi. Será que os animais não têm memória de conversas impolidas? De histórias sujas? De indecências e traições amigas? Se calha não praticam roubos. Mas a verdade é que não são justos e nem sempre se respeitam. Os mais fortes levam a melhor sorte e fazem abuso dos seus genes. A força impera e a brutalidade é lei. Insultos é que não parecem existir. Mandam os músculos e não manda a perfídia, não ganha a subtileza nem há jogos de corredor. Associam-se para conseguir tarefas predadoras ou de defesa coletiva. Não parece haver insultos para quem foge, nem para quem se esconde. Cobardes existem entre as formigas e os leões. Insultos não! Na minha parca e singela forma de ser pessoa tenho alguns problemas quando a conversa é toda de maldizer. Quando não nos relatam uma virtude, quando não encontramos uma benesse, um elogio, uma palavra de agrado ou um valor em alguém, cheira-me a má consciência, parece-me impiedosa vaidade. Esta forma de tão mal apreciar os parceiros desta vida, virá do modo vaidoso como nos interpretamos, ou da forma rude como os observamos? O exercício maior é falar dos outros dizendo bem muitas vezes e só aqui e além um impropério ou uma ofensa!

Por: Diogo Cabrita

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