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Inspeção vai investigar empreitada do novo bloco do Hospital da Guarda

As empreitadas de obras públicas e os equipamentos não utilizados são algumas das «novas áreas de risco» em termos de fraudes identificadas pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde, que vai começar a atuar.

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) prepara-se para investigar a empreitada do novo bloco do Hospital Sousa Martins, na Guarda. Pronto desde o verão, grande parte do edifício continua por utilizar dado não ter obtido ainda a certificação de segurança devido à falta de saídas de emergência no primeiro piso, de portas corta-fogo e aspersores contra incêndios nos corredores.

O caso vai merecer a atenção da IGAS este ano, anunciou o inspetor-geral da Saúde. Em entrevista ao “Expresso” do último sábado, José Martins Coelho revelou que «foram identificadas novas áreas de risco em termos de fraudes», concretamente, empreitadas de obras públicas e equipamentos não utilizados, entre outras. O novo Hospital da Guarda, «ainda sem “luz verde” em termos de segurança», é um dos casos que vai estar na mira dos inspetores. Atualmente, ali funcionam apenas a Farmácia e as consultas externas, sendo que o ministro da Saúde disse recentemente que a mudança dos restantes serviços já está calendarizada, mas ainda há que resolver os «pequenos ajustamentos» que faltavam no projeto de arquitetura, nomeadamente as portas corta-fogo, e que são essenciais para as autorizações da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC).

«Obviamente que isso deveria ter sido acautelado de raiz num projeto com esta dimensão e que tem dado muitos mais problemas do que seria natural. É totalmente anormal o tempo que o hospital tem demorado para abrir», criticou Paulo Macedo, em Manteigas, no início deste mês. Em janeiro deste ano, o arquiteto Ilídio Pelicano, autor do projeto, o presidente da ARS Centro e vários responsáveis da ANPC e da ULS da Guarda chegaram a acordo quanto às alterações necessárias à aprovação do plano de segurança do edifício que, na altura, também não tinha os necessários licenciamentos prévios da Câmara da Guarda e da ANPC. Até essa reunião, o arquiteto sempre recusou fazer as alterações necessárias com o argumento de que não se tratava de erros do projeto, que, além do mais, não poderia ser corrigido por ter sido premiado na Bienal de Arquitetura de São Paulo (Brasil). No final da mesma, José Tereso, presidente da ARS, garantia que havia compromissos «de “timmings”, de alterações técnicas e de equipamento», tendo sido «ultrapassadas pequeninas questões técnicas relativamente ao parecer da ANPC para o novo bloco poder abrir».

Até lá, os advogados do arquiteto e da dona da obra – a ARS Centro – vão «acertar pequenos pormenores relacionados com direitos de autor, pedidos de indemnizações e atrasos», adiantou José Tereso. O INTERIOR sabe que Ilídio Pelicano reclama dinheiro à ARS – uma verba que não foi possível apurar – e tinha o compromisso para projetar os trabalhos da segunda fase do projeto de ampliação e requalificação do Hospital Sousa Martins, que foi metida na gaveta. Por resolver estará também o pedido de indemnização do consórcio Hagen/Edifer, que reclama cerca de 7,8 milhões de euros relativos à suspensão, e juros, da primeira fase da requalificação da unidade, assim como a custos acrescidos que as empresas alegam ter tido por culpa da ULS. Por sua vez, a Unidade Local de Saúde também tenciona ser ressarcida por incumprimentos do contrato, num montante que O INTERIOR não conseguiu apurar, mas que, de acordo com o caderno de encargos da empreitada, o incumprimento dos prazos contratuais implica o pagamento de uma coima que ronda os 55 mil euros por dia, o que se poderá traduzir também nalguns milhões de euros. Em setembro do ano passado, Vasco Lino, presidente do Conselho de Administração da ULS, confirmava apenas que se «foram acumulando queixas de parte a parte» e que ficou acordado que «no final da empreitada se acertariam as contas e é esse levantamento que está a ser feito».

O novo bloco é a parte mais visível da primeira fase de remodelação e ampliação do Hospital Sousa Martins, orçada em mais de 55 milhões de euros. Tem quatro pisos e está interligado ao edifício construído na década de 90 do século passado e onde funcionam atualmente as Urgências. O pavilhão vai acolher serviços que estão dispersos pelo Hospital Sousa Martins. No piso térreo já funcionam as consultas externas e futuramente os serviços de imagiologia, urgência, setor de exames especiais e esterilização, entre outros. O bloco operatório, o internamento, as unidades de cuidados intensivos e intermédios e o laboratório ocuparão o piso 1. No piso -1 ficam áreas técnicas, farmácia, medicina legal e armazém, enquanto o -2 fica reservado a estacionamento.

Luis Martins Grande parte do edifício continua por utilizar por falta da certificação de segurança, as exceções são as consultas externas e a farmácia

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