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«Informação sim, tablóides não»

Jornalistas e advogados sentaram-se à mesma mesa para debater o tema da “Comunicação e Justiça”

As tradicionais Jornadas de Comunicação promovidas pela Escola Superior de Educação da Guarda (ESEG) juntaram à mesma mesa vários especialistas, jornalistas e advogados para debateram a Comunicação e a Justiça. A iniciativa decorreu na semana passada e reuniu, durante dois dias, alunos e professores no Hotel de Turismo da Guarda.

No último dia, António Ferreira (advogado), Marlene Mendes (docente da ESEG), José Magalhães (deputado da Assembleia da República), João Nabais (advogado) marcaram, presença para dissertar sobre a justiça e as novas tecnologias. Durante a tarde, a “Mediatização da Justiça” foi o tema abordado por João de Almeida Santos (investigador e filósofo), Rogério Alves (candidato a bastonário da ordem dos advogados) e Madalena Ferreira (jornalista). Para João de Almeida Santos, «o poder mediático emerge hoje como um protagonista poderoso», até porque na sociedade actual «é a informação que procura o cidadão e não o contrário». Citou a propósito o exemplo de Berlusconi, em Itália, que começou por lançar o conceito de «democracia de público», rapidamente subvertido pela existência de «espectadores e consumidores, em vez de cidadãos», explica o filósofo. O caso italiano é um exemplo vivo e concreto da alteração da velha democracia representativa, acrescenta o investigador, onde «o sistema mediático pode levar ao poder e à queda do mesmo». Por isso João de Almeida Santos concluiu na sua intervenção que «informação sim, tablóides não!».

Madalena Ferreira concordou com esta análise e partilhou com a assistência a sua experiência profissional na rádio. Recordando ter sido detida e acusada de violação do segredo de justiça a 12 de Fevereiro de 1997, quando confirmou as suspeitas de que Abílio Curto, ex-presidente da Câmara da Guarda, estava acusado de corrupção, a jornalista ironizou ter sido o mensageiro a notícia. No final, questionada pelos alunos se voltaria a fazer o mesmo, Madalena Ferreira respondeu cautelosamente que sim «mas noutros moldes». Contudo, uma coisa não mudaria: «A preservação das fontes é sagrada», sublinha. Um outro caso em destaque nesta conferência foi o processo Casa Pia, referido por todos intervenientes, mas principalmente por Rogério Alves, advogado e candidato a Bastonário da Ordem. Relembrou que «o direito a informar e ser informado são direitos constitucionais», para além de que «os casos penais são os mais mediatizados», sublinhou o advogado, acrescentando que «estes são apenas um subsector da justiça». Na realidade a mediatização dos processos provocaram novos desafios «para os quais não estávamos preparados», refere Rogério Alves. De resto a sua principal preocupação reside no facto de que hoje a «comunicação social está a assumir o papel de arma de destruição maciça», lamenta o advogado.

Patrícia Correia

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