1. Vivemos tempos de dúvidas. Tempos de angústia. Tempos em que não sabemos se partir se ficar, porque não sabemos onde é que podemos estar bem ou podemos ficar melhor, ou pior. Tempos difíceis, em que as crises se replicam e não partem. Tempos em que queremos voar como andorinhas, mas deparamos com tempestades.
A desarrumação em que o país vive condenou milhares de portugueses a partir – nos últimos cinco anos emigraram cerca de meio milhão e em 2015, em que se esperava um “recuo” na fuga, partiram 150 mil. São jovens cujos sonhos sucumbem durante a viagem, mas são também “seniores” que partem à procura de melhor vida. Alguns partem com contrato e canudo na mão, ferramenta essencial para conseguirem trabalho, mas muitos partem de mãos vazias, como sempre partiram, com uma mala cheia de nada.
Portugal é um país de emigrantes, de gente audaz e corajosa, que se fez à vida, porque a vida não é fácil. A Inglaterra tornou-se nos últimos anos num dos destinos preferenciais dos “novos” emigrantes. Com o “Brexit” é agora um dos mais problemáticos – passa a ser necessário documentos de residência, por ficarem sem direitos enquanto europeus, a libra vale menos e a segurança, o medo e a xenofobia passaram a ser preocupação.
2. Nestes tempos difíceis, a dignidade é muitas vezes o que resta a muitas pessoas. Milhões de homens e mulheres escolheram morrer de pé e não viverem ajoelhados, em nome da dignidade. Uma dignidade que podemos nem saber definir, mas que sentimos quando a perdemos. E hoje, perante o peso das dificuldades, da crise, da precariedade, são cada vez mais os que são espoliados da sua dignidade. É assim com as pessoas, mas também com as instituições. E é assim que assistimos a uma Europa suicidária que escolhe a indignidade no relacionamento com os mais fracos, que ameaça com sanções depois de impor as regras do ajustamento, que definiu em memorando o empobrecimento de Portugal e agora ameaça com sobranceria sancionar o “bom aluno”. A Europa dos problemas e das dúvidas, releva o pacto de estabilidade e a exigência do cumprimento do défice de Portugal e Espanha e quer sancionar as décimas de desvio, mas não multa a poderosa França, porque «é a França». A Europa não pode ser isto. Ou apenas isto. Queremos uma Europa solidária para os europeus, para todos os europeus.
3. O Presidente da República foi a Trás-os-Montes e Alto Douro levar algum do seu otimismo. Passou, também, pelo distrito da Guarda inaugurando dois equipamentos de categoria e que são apostas de futuro: o Centro de Alto Rendimento de Remo e Canoagem do Pocinho (Vila Nova de Foz Côa) e o Hotel de Longroiva (Mêda). O primeiro já foi devidamente laureado, em especial pela arquitetura e pela excecional contextualização no Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial. O segundo, num território tão abandonado, é uma obra ambiciosa e um investimento empresarial de eleição. Ambos podem ser âncoras de progresso, em especial como contributo para uma nova dinamização turística regional (a que se poderá juntar o empreendimento Cegonha Resort, em Gonçalo, com projeto de Frank Gehry, que finalmente tem autorização para avançar em zona de Reserva Agrícola).
Luis Baptista-Martins