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Um país precisa de heróis

Um país precisa de trabalho árduo, de competência, de estudo, de liderança, de valores. Mas a par da razão, um país também se faz com emoção e com heróis. A vitória da seleção portuguesa no Europeu de futebol 2016 é um desses raros momentos em que nos sentimos todos capazes de ultrapassar os obstáculos que temos pela frente.

É verdade que nestas alturas há excessos, desde logo da atenção mediática dada ao futebol, a que se juntam sempre os arroubos patrióticos inflamados. Mas a vitória de Portugal no Euro 2016 é bem mais do que isso. É verdadeiramente a prova de que, mesmo contra todas as possibilidades matemáticas, mesmo contra o peso da História e a importância dos países, mesmo contra toda a racionalidade, todas as previsões, todos os cálculos, é possível David vencer Golias.

É possível, mesmo contra contrariedades gravíssimas, como foi a perda ainda antes dos 10 minutos, do mais influente jogador português, sobreviver, aguentar, dar a volta por cima e conquistar o topo da montanha, a glória, e ter o mundo a seus pés.

Cristiano Ronaldo deu um enorme exemplo de perseverança, de capacidade de luta, mostrando aos outros que os queria ajudar a conquistar o objetivo que todos tinham definido. E quando não conseguiu dar o seu contributo em campo, deu-o fora dele, não desistindo, incentivando, empurrando os colegas para as asas da vitória, fazendo-os acreditar que era possível, que afinal o tigre, embora não sendo de papel, também não era imortal.

Estes exemplos são decisivos quando os países passam por grandes dificuldades. É fundamental que os líderes nos digam que, apesar de todos os sacrifícios, dos nossos reduzidos recursos, do poder de fogo dos inimigos, é possível ganhar e construir um país e um futuro bem melhores. É descoroçoante que os líderes nos digam que temos de ir para a guerra mas que vamos perder. É essencial que os líderes não desertem a meio da batalha para lugares principescamente pagos, mas de baixíssimos níveis éticos.

Fernando Santos deu-nos um enorme exemplo, ao acreditar no valor da seleção portuguesa, respeitando os adversários, mas dizendo sempre que seria muito difícil ganhar a Portugal. Ronaldo deu-nos um enorme exemplo de liderança e de sacrifício, em prol de um objetivo que fica como um marco para a vida dele e de todos os seus colegas de equipa, mas também para o país.

Infelizmente, nos últimos anos não tivemos, já não digo um Churchill, mas um Fernando Santos ou um Ronaldo para nos estimular, com a sua liderança e o seu exemplo, neste dificílimo período de ajustamento que estamos a viver desde 2011. Os líderes políticos e empresariais têm muito a aprender com esta vitória da seleção portuguesa no Euro 2016.

Por: Nicolau Santos

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