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Impostos

Avisa Medina Carreira que, a manter-se o actual rumo das coisas, pouco falta para que 90 por cento das contribuições e impostos dos portugueses sejam absorvidos pelas principais despesas sociais do Estado (Educação, Saúde, Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações). Basta seguir as curvas dos gráficos para concluir que vai ser já em 2015 e para nos interrogarmos sobre como e com que recursos irá o governo da altura pagar o resto das despesas do Estado, incluindo salários de funcionários, investimentos públicos, ou os juros da pesada dívida pública – sem falar na amortização do capital em dívida. Dirão que isto são coisas de um pessimista profissional, mas ainda não vi ninguém desmentir-lhe os números. Para que a sua previsão se não realize é preciso que a economia cresça pelo menos 3 por cento ao ano a partir daqui, mas a previsão de crescimento para o próximo ano, por exemplo, é apenas um décimo disso. Para que o Estado consiga pagar os seus encargos, terá de cobrar mais impostos e contribuições, todos o sabem, assim como sabem que a cobrança fiscal está no limite da resistência de quem os paga. Entretanto, vão fechando empresas e vai engrossando o número dos desempregados. A consequência é haver cada vez menos contribuintes e cada vez mais beneficiários de subsídio de desemprego. A vida está cada vez mais difícil para todos. Todos?

Não, não é para todos. Há quem esteja a passar muito bem. Há empresas que apesar da crise continuam a ganhar concursos e a fazer negócios com o Estado, mesmo que para isso tenham de jogar sujo com gente que aceita sujar-se – e estes não faltam. Não faltam também por todo o país “nulidades enfatuadas” (a expressão é de Vasco Pulido Valente), com a ambição de nos governarem e sem uma ideia de como o fazer que vão trepando nos aparelhos partidários e acedendo aos altos cargos: hoje na vereação de uma câmara qualquer, amanhã na Assembleia da República, depois numa secretaria de estado, num ministério, no conselho de administração de um banco – e sempre tendo como únicas características notáveis a sua lista de contactos e o uso proficiente de determinada colocação de voz, algo que alguma plebe aprecia por julgar ser própria de estadistas. É verdade que os bons fatos e as gravatas azuis também ajudam, e seria útil alguma literacia, e inteligência, mas a fachada está definitivamente em alta e, de profundo, só mesmo o tom de voz. O objectivo de muitos, cada vez mais dos que se movimentam nos partidos, não é há muito o serviço público, mas apenas conseguir aceder à “grande teta do Estado”. É também Medina Carreira que diz que a maior parte dessa gente precisa da sua carreira política para ganhar a vida, que “cá fora” não conseguiriam sobreviver ou apresentar o mesmo nível de vida. Para eles, ser deputado, ou vereador, ou gestor público, ou outra coisa qualquer, mas “no Estado”, é a alternativa a estar no desemprego ou a ganhar mal a vida numa qualquer empresa em dificuldades. E é para tudo isto que servem os nossos impostos.

Por: António Ferreira

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