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Imagem Urbana – O Significado das Formas

Ao escrever um artigo para a Conferência Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, revisitei um dos autores que se debruçou na leitura da imagem da cidade e nos deixou um grande contributo na área do design urbano. Ao refletir sobre os conceitos que cingem a leitura da paisagem urbana, não consigo estar de forma passiva ao que reconheço no meio em que vivo.

A forma em si é um meio para proporcionar bem-estar e qualidade de vida. Devido a esta certeza, do poder da arquitetura e do urbanismo no comportamento social, acabo por perceber as intervenções no meio construído como extremamente relevantes e influenciadoras, com enorme peso no conjunto das situações sociais e económicas que permeiam o nosso país.

É claro que outros fatores, outras referências, que não físicas, mas percetíveis pelos sentidos, também influenciam na imagem do local, tais como as funções, o significado social de uma área, a sua evolução histórica ou, até, o seu nome. É elementar considerar que o design atual se deveria usar com o fim de reforçar o significado e não de o negar (Lynch, 1982).

Dentro desse universo de perceção do meio, coloco a questão:

– O que têm decidido os nossos poderes políticos, que caminhos têm tomado, com o intuito de criarem uma forte imagem urbana, positiva e contributiva para o bem-estar social?

Atualmente certas formas apenas revelam uma total sujeição do urbanismo à rentabilidade do solo. A destruição da paisagem rural e urbana portuguesas revela, e bem, as condições culturais, políticas e sociais em que se projeta e se deixa construir em Portugal. Aqui pela nossa cidade, vejo o descomprometimento total nesta área. Parece-me que o que os impulsiona a interferir nos nossos espaços são os próprios interesses económicos – individuais ou de um limitado grupo dos que partilham os mesmos benefícios financeiros, que lá vão dizendo… que representam os interesses dos cidadãos. O que surpreende é que os reflexos dessas atitudes são sentidos por todos. Como exemplo recente de falta de intenção em responder à necessidade de termos um ambiente não só organizado, mas também simbólico e que fale pela sociedade, recordo a já quase concluída abolição da “Rotunda da Ti Jaquina”, ou será que pretendem manter o nome, mesmo sem lá estar o que o originou e construiu esse forte elemento da nossa cidade?

Se questionarmos as pessoas sobre o sentimento que nutrem pela sua cidade, incluindo aquele restrito grupo supracitado, acredito que teremos como resposta, como muitas vezes já ouvi: – Não gosto de viver aqui; – Não há nada de bom nesta cidade.

Talvez uma pesquisa acerca dos indicadores da imagem que as pessoas têm de sua cidade favorecesse na tomada de direção que as possíveis intervenções poderiam ter.

No entanto, dessa sugestão nasce outra questão: O que é ensinado nas escolas em relação a educação visual, como o observador olha para o objeto?

Fica para uma próxima…

Telma Rebelo, arquiteta e urbanista, investigadora na UBI e ISCTE, carta recebida por email

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