São queijos, azeites, vinhos e doces diferentes dos habituais. Os artigos foram produzidos segundo a lei judaica e estiveram pela primeira vez reunidos num mercado “kosher”, realizado no último domingo, em Belmonte, no âmbito da segunda edição do Festival da Memória Sefardita.
Com o evento, que terminou ontem, pretendia-se recuperar e manter viva a história que ainda vive na memória dos descendentes das comunidades judaicas que foram obrigadas a abandonar a Península Ibérica para escapar às perseguições da Igreja Católica na época da Inquisição. Tal como no ano passado, o evento contou com a presença de membros de comunidades judaicas de todo o mundo que, ao longo de três dias, visitaram Belmonte, Trancoso e Guarda, localidades cujo passado ficou marcado pela presença judaica. Esta segunda edição arrancou na vila belmontense, onde ainda hoje resiste uma das mais antigas comunidades de judeus do país. O mercado “kosher” foi “instalado” junto à sinagoga e além do queijo, azeite, vinho e doce, deu também destaque ao artesanato de tipologia judaica, num espaço visitado pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.
Os visitantes tiveram ainda a oportunidade de conhecer a sinagoga e assistir às respetivas cerimónias religiosas. Nessa noite, mas já no Teatro Municipal da Guarda (TMG), teve lugar um concerto de Mor Karbasi, cantora israelita. Na segunda-feira foi oficialmente apresentada a Rede Nacional de Judiarias. Durante a sessão, o presidente da Turismo Serra da Estrela revelou que há dez novos municípios interessados em integrar esta rede recentemente constituída. Jorge Patrão garantiu que o projeto, que arrancou com seis regiões de turismo e uma comunidade judaica, «está a ter grande aceitação a nível nacional». Angra do Heroísmo, Évora e Alenquer são algumas das localidades que manifestaram interesse em aderir. À tarde, no TMG, contou-se a história dos “Justos Portugueses na II Guerra Mundial”, sobre o trabalho dos embaixadores Carlos Sampayo Garrido e Alberto Branquinho na Hungria que permitiu salvar judeus e opositores ao regime.
Ainda no mesmo dia foi exibido o filme “O Cônsul de Bordéus”, dedicado a Aristides de Sousa Mendes, que ajudou milhares de judeus a sair de França. Na terça-feira, os participantes rumaram a Trancoso, onde foi inaugurada uma exposição do espólio do Capitão Barros Basto no Convento dos Frades. O militar, já falecido, foi exonerado das funções de oficial por ser judeu e defensor da tolerância religiosa, tendo apesar de tudo empreendido esforços para recuperar a identidade judaica portuguesa. O II Festival da Memória Sefardita, organizado pelos municípios de Belmonte, Guarda e Trancoso em colaboração com a entidade Turismo Serra da Estrela, terminou ontem com a realização de visitas temáticas.