A Turistrela, empresa concessionária do turismo na Serra da Estrela, vai aumentar para 120 quartos o projecto que o arquitecto Souto Moura desenhou para o Sanatório dos Ferroviários. A novidade foi avançada a “O Interior” por Artur Costa Pais, afirmando que o projecto para o «hotel de charme com cinco estrelas» apenas tem «viabilidade» para o grupo inglês, com quem se encontram em negociações, se tiver uma dimensão superior aos 55 quartos pensados inicialmente pelo arquitecto portuense.
O estudo económico para acrescentar os 65 quartos está «praticamente finalizado», adianta o administrador da empresa, pelo que, na sua opinião, o próximo ano será «decisivo» para o arranque da obra. As negociações «estão bem encaminhadas» com o grupo internacional, garante. No entanto, e apesar do aumento do número de quartos, o edifício concebido em 1927 por Cotinneli Telmo «não sofrerá qualquer ampliação». Artur Costa Pais diz que basta apenas «anular» alguns dos espaços sub-aproveitados no projecto do arquitecto portuense, como os solários. Esta será, pois, a única alteração ao projecto, visto que irá manter as restantes valências, designadamente o healt club. «Souto Moura é um bom arquitecto, mas há a vertente económica e o grupo só vem para a Serra da Estrela se entretanto o projecto tiver 120 quartos», explica o empresário, que não duvida que este grupo será «uma mais valia» para o turismo da região. Com o mercado nacional «consolidado» e sem meios para «promover a divulgação» internacional da Serra da Estrela, a aposta da Turistrela vira-se agora para um operador internacional que dê «garantias na gestão e na fixação do mercado externo» para esta região, principalmente nas épocas baixas.
O aumento dos quartos também não trará grandes discrepâncias ao orçamento de 10 milhões de euros apontados para a construção da então pousada, uma vez que «o custo de 55 quartos é semelhante ao de 120 quartos», diz Artur Costa Pais. Daí que o investimento deverá ser entre 10 a 12 milhões de euros suportados pela empresa de gestão do hotel Turistrela e por fundos comunitários.
De pousada a hotel
Apesar de corresponder a um dos investimentos anunciados pelo governo de António Guterres através do Plano de Aproveitamento das Potencialidades Turísticas e Ambientalistas da Serra da Estrela, a recuperação do antigo sanatório nunca foi tarefa fácil desde há cinco anos. A Enatur, empresa nacional de turismo, chegou mesmo a adquirir o edifício em 1999 à Turistrela por um escudo, apenas com a cláusula de construir a Pousada num prazo de dois ou três anos, sob pena de reverter para o antigo proprietário. A falta de financiamento impediu que a obra avançasse, tendo a Turistrela prolongado por duas vezes o prazo da escritura. Em 2002, a obra ganhou um novo impulso, com a abertura do concurso público internacional, que veio a ser ganho em 2003 pelo consórcio formado pelas empresas Ramalho Rosa Cobetar e FCC. No entanto, a obra nunca chegou a ser adjudicada, até porque nesse mesmo ano o Grupo Pestana assumiu o controlo accionista da Enatur – que detém 44 pousadas em Portugal – através de concurso público. Em Maio de 2004, e na sequência de uma entrevista ao “Diário de Notícias”, o presidente do Grupo Pestana, José Roquette, colocava sérias dúvidas quanto à viabilidade da Pousada da Serra da Estrela, pelo facto de existirem estruturas similares na região: as pousadas do Convento do Desagravo, a de Manteigas, a de Belmonte e a de Linhares da Beira.
Orçada em 10 milhões de euros, a pousada previa a construção de 56 quartos – 35 dos quais duplos, cinco familiares e 16 suites-, uma suite presidencial no último piso e um health club. A Enatur acabou por perder o direito legal ao edifício em finais do ano passado, voltando este para a Turistrela, que assumiu a recuperação da obra, mas desta vez para construir um hotel de charme e com cinco estrelas.
Liliana Correia
