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Homem perfeito

Todos os dias surgem nos mais variados fóruns de discussão nomes começados por nano, bio, info cogno, prefixos para novas áreas da ciência e tecnologia, tais como, nanociências. biotecnologias, informática e ciências cognitivas.

Estes novos domínios têm todos um denominador comum, permitir um aperfeiçoamento das capacidades humanas. Em 2002, um grupo de trabalho da National Science Foundation (NSF) dos EUA prenunciava a iminência de uma revolução científica que permitiria “um enorme aperfeiçoamento” das capacidades humanas. Um ano mais tarde, o Conselho de Bioética, criado pela Casa Branca, criou uma lista de técnicas susceptíveis de serem utilizadas para aperfeiçoar o funcionamento do ser humano. Estas técnicas abrangem diferentes domínios, como a engenharia genética ou a substituição de órgãos do corpo humano.

Nenhuma destas técnicas foi concebida para aumentar os limites de boa saúde dos indivíduos, foram sim desenvolvidos com o objectivo de tratar doenças e deficiências

Tal como afirma Joel Garreau, jornalista e autor de “Radical Evolution”, que se tornou uma referência para os adeptos do aperfeiçoamento do ser humano, “originalmente destinados a doentes , as técnicas e os produtos servem primeiro os que deles precisam e, em seguida, todos os que procuram conquistar qualquer vantagem”.

Os rápidos avanços na interface cérebro-máquina, onde se destacam os implantes retinianos, os aparelhos de comunicação para pessoas paralisadas e até próteses de memória, fazem prever estaremos perto de termos implantes neuronais para melhorar o funcionamento norma dos indivíduos saudáveis, podemos estar próximo, através de progressos da engenharia e das terapias genéticas, de reparar genes alterados, corrigir erros e até inserir novos genes, reescrevendo o nosso código genético e o das futuras gerações.

Olhamos para todas estas técnicas podemos achar que ainda estamos muito longe de podermos aplicar algumas delas, contudo no é demais recordar que a tecnologia não se desenvolve de forma linear, mas sim exponencialmente. O exemplo mais conhecido que justifica esta afirmação é a Lei de Moore, que afirma que para praticamente qualquer medida – seja o número de “chips” de silício ou a quantidade de memória que podemos comprar por um euro – a potência de cálculo duplica a cada 18 meses. A indústria informática segue esta lei à 40 anos.

Um outro aspecto que o grupo de trabalho de NSF refere, e que merece um pouco de reflexão é a “convergência”. À medida que os diferentes domínios se desenvolvem procuram convergir para um objectivo comum, acabando por se fundir numa única ciência baseada “na unidade da Natureza”. O que significa que o homem terá um poder quase ilimitado sobre a sua biologia, capaz de pôr fim à dor, ao sofrimento e, ainda dotar-se de capacidades sobre humanas a nível físico e mental.

O crescimento exponencial da potência de cálculos provoca um crescimento semelhante noutros domínios. daí não nos podermos basear nos progressos alcançados nos últimos 20 anos, para prever os próximos 20, pelo que urge deixar que estes temas extravasem o mundo académico e sejam debatidos na sociedade civil.

Por: António Costa

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