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Histórias do contrabando inspiram jogo de estratégia

“Contrabando” é um jogo de tabuleiro que quer «perpetuar a memória e o passado» da região do Vale do Côa

As histórias de vida e a argúcia de quem vive na raia foram o mote para criação de um novo jogo: “Contrabando”. Hugo Morango apresentou na passada quinta-feira na Câmara do Sabugal um jogo de contrabandear, com histórias e lugares reais, com diversão e tradição, tudo no território raiano. Trata-se de um jogo de estratégia que nasce com o apoio das autarquias dos Territórios do Côa e da Associação Vale do Côa.

O criador começou por propor vários tipos de jogos e este foi o escolhido. “Contrabando” passou por todo um processo de pesquisa através de conversas e entrevistas com os locais da zona raiana, desde Mogadouro até ao Sabugal, onde a prática do contrabando foi mais intensa e mais lucrativa. «Tive que perceber como tudo funcionava para depois transformar num esquema de jogo», adiantou Hugo Morango. Para o presidente da Câmara do Sabugal, António Robalo, esta é uma forma de «perpetuar uma memória e um passado que queremos que seja dado a conhecer, principalmente aos mais jovens». Segundo o autarca, as novas gerações não tiveram contacto com esta realidade do contrabando que faz parte da história da região e esta é uma forma de «trazer ao presente um passado que não foi assim tão distante».

Na sessão de apresentação foram partilhados alguns testemunhos de antigos contrabandistas que iniciaram esta forma de ganhar a vida ainda em criança e guardam até hoje muitos episódios. As histórias soltaram algumas gargalhadas na plateia, mas «esta era uma vida difícil, pois saíamos de casa ao anoitecer e nunca sabíamos se regressávamos», contaram, lembrando que alguns acabaram por ser apanhados e presos, «outros perderam a vida». Chamaram-lhe «contrabando de subsistência» e ao longo das décadas foram várias as mercadorias transportadas entre os dois países. Hugo Morango quis ser fiel a histórias como estas num jogo que, tal como na realidade, tem contrabandistas e guardas fiscais que procuravam evitar que estes homens chegassem ao destino com as mercadorias.

Cada jogador será ao mesmo tempo contrabandista e fiscal do adversário e, com o desenrolar do jogo, vão surgindo desafios e peripécias próprios do tempo do contrabando. O jogo destina-se a maiores de oito anos e as expetativas estão elevadas por parte dos promotores, que acreditam que sendo este um jogo de estratégia vai conseguir chegar aos mais jovens e cativar algum público. No entanto, António Robalo diz ser necessário apostar nas plataformas digitais para maior divulgação de “Contrabando” e, consequentemente, ganhar mais adeptos.

Ana Eugénia Inácio A apresentação do jogofoi seguida de uma tertúlia com antigos contrabandistas

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